terça-feira, 24 de maio de 2011



24 de maio de 2011 | N° 16709
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Direto ao coração

Leio que há um renovado interesse dos jovens da era digital pelos clássicos impressos. A notícia me alegra, pois o culto à máquina e a devoção à eletrônica acabam por abalar a boa e velha cultura humanística.

Segundo diz a notícia, rapazes e moças se reúnem para percorrer as páginas de Machado de Assis e Jane Austen, além de outros autores menos votados.

Isso é excelente. Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Orgulho e Preconceito, dentre uma miríade de outras obras, deveriam frequentar a formação de nossos adolescentes, que não poderiam esquecê-las quando na idade adulta.

Sei disso por experiência própria. Um tanto pelos exemplos de casa – sempre vivi cercado de livros –, outro tanto pelos sábios professores do Colégio Anchieta – aqueles que ensinavam nos casarões e edifícios da Rua Duque de Caxias, 1.247 –, me apaixonei pela literatura. Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Capitu – a dos olhos de ressaca – tornaram-se meus heróis particulares.

Já nem falo dos personagens russos, ou da safra americana, como Nick Adams, Dick Diver, Gatsby, e um centenar de outros, a que fui apresentado com o correr dos tempos.

Hoje sou dono do que creio seja a maior coleção de livros da Lost Generation existente em Porto Alegre e arredores e da obra completa de um inglês, Somerset Maugham, de que me falta apenas um volume, Looking Back, que nunca consegui encontrar. Deste último, compraria até a edição em espanhol.

Nada disso me renderia o título de Patrono da Feira do Livro ou de candidato a uma vaga na Academia de Letras. Mas me garante uma conquista muito melhor: a do prazer de ler. É assim que leio: por prazer. Há poucas alegrias maiores do que folhear páginas que falam direto ao teu cérebro e à tua sensibilidade.

O exemplo dos jovens que redescobriram a literatura impressa me enche de alegria. Significa que uma das raízes da civilização a que pertencemos continua firme e forte. Trata-se do livro, revigorado pelas novas gerações. Maugham, que já citei antes, dizia que apenas uma frase lida já tinha uma significação especial para ele. Não estava errado. Os bons livros falam direto ao coração.

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