quinta-feira, 5 de maio de 2011



05 de maio de 2011 | N° 16691
CLAUDIA TAJES


A ameaça Kate

Um dos efeitos da megacobertura do casório dos príncipes ingleses aconteceu a milhares de quilômetros do Reino Unido, em Alvorada, no Rio Grande do Sul. E respingou aqui em casa. Prestes a dar à luz uma menina, a filha da senhora que trabalha com a minha irmã decidiu chamar sua primogênita de Kate. E mandou um bilhetinho para mim perguntando como escrever o nome pretendido, para não dar erro na hora do registro.

Imediatamente me veio à cabeça a imagem do deputado Carrion brandindo contra as palavras estrangeiras na língua portuguesa. Como responder à singela pergunta da futura mãe sem ferir o nosso idioma?

Fiz alguns exercícios inúteis. Comecei pensando em explicar que Kate é um diminutivo para Catherine, ou Catarina, em português. Assim, mantida a ideia do nome-apelido, poderia sugerir a forma Cata, quem sabe, mas aí a bebê seria um verbo, não uma menina.

Também experimentei nacionalizar o apelido da princesa. Queite? Ficaria na linha do mais brasileiro dos nomes próprios da atualidade, Maicon, livre tradução dos pais fãs do Michael Jackson, do Michael Douglas e de outros Michaels de destaque no cenário mundial para batizar suas crianças. Aposto que a mãe em dúvida não aceitaria. Apesar de reproduzir com fidelidade o som do nome original, falta nobreza a Queite. Não seria uma solução, seria uma invenção.

Muito já se disse sobre a lei antiestrangeirismos do deputado Carrion, e se disse muito bem. Mas, com um assunto desses no ar, é quase impossível não meter a colher. Descontados os exageros dos pernósticos e pedantes, casos isolados que, longe de influenciar os demais nativos, só ridicularizam quem os comete, a mim parece que a língua está bem protegida por nós, que a falamos todos os dias. Se fazer check in e usar notebook são ameaças à nossa soberania, é bom demitir os militares e encher os quartéis com professores de português.

Voltando ao início, desisti de complicar e tasquei logo Kate em um papelzinho, junto com um tip-top para a nova princesa que vai nascer. Se a mãe quer chamar assim, o deputado Carrion não tem nada com isso.

No meio do bafafá, o governador Tarso Genro prometeu consultar especialistas e deputados antes de oficializar a patuscada: expressões e palavras estrangeiras terão que ser traduzidas ou explicadas em território gaúcho.

Se isso virar lei mesmo, o Rio Grande do Sul vai parar nos telejornais nacionais. Mas o pobre do William Bonner, por motivos óbvios, estará impedido de ler a notícia.

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