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sábado, 14 de maio de 2011
14 de maio de 2011 | N° 16700
CLÁUDIA LAITANO
A batalha de Higienópolis
Higienópolis está para São Paulo mais ou menos como o Moinhos está para Porto Alegre. Com bons restaurantes, áreas verdes e uma elegância que não nasceu ontem, o bairro tem resistido bravamente ao tipo de mau gosto arquitetônico que enche os olhos (e esvazia os bolsos) do novo-riquismo nacional.
Na vizinhança que um dia abrigou os palacetes franceses dos barões do café, não é chique ostentar “materiais nobres” na fachada ou anunciar “um novo conceito” em qualquer coisa. Em Higienópolis, ainda se paga pelo “velho conceito” de riqueza.
Pois esse bairro discretamente elegante virou palco de um sanguíneo embate de classes esta semana – travado principalmente nas redes sociais. A batalha de Higienópolis começou a esquentar na quarta-feira, quando o governo paulista divulgou que havia desistido de instalar uma estação de metrô no coração do bairro.
O anúncio do engavetamento do projeto inicial acendeu o alerta de que o governo estaria cedendo às pressões dos moradores, que assinaram um manifesto pedindo que a estação não fosse instalada ali.
Uma moradora cunhou a frase que viraria o bordão da polêmica: “Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada...”. A expressão “gente diferenciada” tornou-se rapidamente uma das mais populares no Twitter, e na quarta-feira já estava sendo convocado para hoje o “churrascão da gente diferenciada” – um grande protesto-evento pró-metrô.
Para quem está de fora (e pode apenas lamentar o fato de nem sequer ter metrô para esnobar...), chama a atenção como polêmicas como essa, turbinadas pelo canhão de comunicação instantânea e onipresente que são as redes sociais, tendem a cumprir uma trajetória mais ou menos previsível: começa com uma denúncia, se espalha com a indignação e se dilui na falta de bom senso.
A boa informação a ser investigada (a decisão do governo de limar a estação foi técnica ou política?) pegou fogo com a declaração preconceituosa da moradora e logo em seguida começaram os debates raivosos – em que até o fato de o bairro ter um grande número de judeus foi pretexto para comentários e piadas antissemitas.
A democracia no Brasil é relativamente jovem. As redes sociais, mais jovens ainda. Como instrumento de expressão da opinião pública, ferramentas como Twitter e Facebook são uma conquista preciosa, mas têm sido usadas com frequência para dar vazão a raivas coletivas e desequilíbrios individuais. O grande risco, nesses casos, é acabar confundindo uma desinformação infinitamente repetida com os fatos verdadeiros e bem apurados.
Em um país de tradição democrática curta e errática como o nosso, o exercício da discussão pública ainda não se tornou um hábito culturalmente assimilado. Resta torcer para que a baixaria travestida de debate não chegue antes para ocupar seu lugar.
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