quarta-feira, 18 de maio de 2011



18 de maio de 2011 | N° 16703
DAVID COIMBRA


A Descoberta da loira

Dia desses li na página da Cláudia Ioschpe a história de Victória, uma linda loira gaúcha de 16 anos de idade. Ela e sua beleza primaveril assistiam a um evento de moda em Porto Alegre, quando um sujeito que trabalha em uma agência de modelos a descobriu. Foi precisamente esse o termo empregado no texto: Victória “foi descoberta”. E seguia-se o nome do descobridor e tudo mais.

Há cinco séculos, as pessoas descobriam continentes. Colombo descobriu a América, Cabral descobriu o Brasil. Agora as pessoas descobrem loiras. Gisele Bündchen, se não me engano, foi descoberta passeando com suas pernas de garça em um shopping. O que o descobridor dela fez, quando a viu? Os navegadores gritavam:

“Terra à vista!”

O que grita um descobridor de mulheres?

Aí é que está: existe essa profissão, descobridor de mulheres. O cara ganha dinheiro para fazer isso. Está sentado com a mulher dele em um bar, passa uma sílfide, ele olha, a mulher reclama, e ele:

– Querida: eu estou trabalhando! Trá! Bá! Lhan! Dô!

Sábado à noite, ele toma um banho, se arruma todo e vai saindo de casa. A mulher:

– Onde você vai?

– Na Padre Chagas. Vou ver se descubro alguma mulher por lá.

– Você é um workaholic, meu amor...

De madrugada, ele retorna. A mulher está na sala, de chambre, vendo Altas Horas. Ela levanta a cabeça e depara com ele ladeado por uma loira de minissaia minúscula e uma morena de short ainda mais minúsculo. A mulher suspira:

– Trazendo trabalho pra casa de novo, querido?

– Workaholic, workaholic...

Quem não queria trabalhar descobrindo mulheres? Ou cantando? Ou jogando bola? Agora me diga: é preciso motivação extra para trabalhar em algo assim? Vou perguntar qual é a opinião do varredor da minha rua.

A serpente ardilosa

Meu avô sempre me contava esse caso que vou relatar agora. Dias atrás, contei-o para o meu filhinho e ele ficou ouvindo com os olhões pretos muito arregalados e a boca aberta de espanto. É mesmo impressionante. Aconteceu numa dessas comunidades rurais afastadas. A jovem mãe tinha o hábito de amamentar o filho na varanda, depois do almoço. Sentada no chão, as costas apoiadas na parede da casa, ela deixava o nenê mamar e adormecia sob o calor bom do sol da tarde. Todos os dias, isso. Mesmo assim, o nenê emagrecia visivelmente. Os pais estavam preocupados.

Não podiam imaginar o que ocorria.

É que, mal a mãe pegava no sono, uma enorme serpente rastejava do mato próximo e, com os músculos poderosos do seu corpo, afastava com delicadeza o nenê do peito. Em seguida, metia a ponta do rabo na boca da criança, ao mesmo tempo que, com sua própria boca, sugava o seio da mulher.

Um dia, o pai voltou para casa de inopino e deparou com a cena horrenda. Armou-se de um facão, correu atrás da cobra, alcançou-a e, de um golpe, abriu-lhe o ventre. De onde jorrou uma cascata de leite quente, leite humano, leite que devia alimentar um bebê humano.

***

A história é ótima, mas só pode ser lenda. Assim como a tal motivação extra que o fictício amistoso do Mazembe com o Grêmio teria produzido nos jogadores do Inter, no Gre-Nal. A lenda da motivação, no caso, foi construída pelos próprios jogadores. Claro, lhes convém, porque dá a impressão de que eles só perdem para eles mesmos: motivados seriam invencíveis.

Balela.

Na primeira meia hora de jogo, o Grêmio poderia ter goleado. Eles não estavam motivados na primeira meia hora? A história do Mazembe ainda não lhes penetrara na alma?

O que ganhou o jogo foi a entrada de Zé Roberto. Uma mudança técnica, tática e fria. Quem ganhou o jogo foi Zé Roberto. E Damião, óbvio, que quem ganha jogo é Damião.

Mas a lenda da motivação dos jogadores é boa. Tanto quanto a história da serpente ardilosa, bebedora de leite de mãe.

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