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sexta-feira, 6 de maio de 2011
06 de maio de 2011 | N° 16692
PAULO SANT’ANA
Tortura institucional
Nunca pensei que o episódio da morte de Bin Laden fosse ocasionar em mim, que sou um respeitador dos direitos humanos, tamanha perplexidade e estupor.
É que o diretor da CIA (Agência Central de Inteligência), Leon Panetta, declarou a todo o mundo pela imprensa que os EUA chegaram até o esconderijo de Bin Laden porque interrogaram um informante, valendo-se no interrogatório de afogamento simulado.
É a segunda vez que um governo norte-americano erigido confessa publicamente que emprega a tortura sobre seus prisioneiros. Bush já o tinha feito.
Não é o governo da Tailândia, não é o governo do Líbano nem o da Indonésia que declaram usar de tortura para interrogar seus prisioneiros.
São os EUA que estão declarando oficialmente.
Para o presente e o futuro da humanidade, nunca vi notícia mais trágica.
Não há forma mais sofisticada e agravada da maldade humana que a tortura.
E, se o mais importante país do mundo, os EUA, que se jactam de ser a maior e melhor democracia do mundo, aplica a tortura como método institucional e de governo para arrancar confissões de seus prisioneiros, se já praticava isso como se tinha a certeza, vir a declará-lo oficialmente soa como o maior retrocesso da humanidade.
O que vão deixar os EUA para as ditaduras, para os déspotas, para os governos de países atrasados? O que vão deixar?
Que mais se esperar da humanidade se o governo norte-americano usa a tortura como método e confessa-o publicamente.
Por sinal, por que será que o chefe da CIA confessou a tortura?
Terá sido certamente para aproveitar-se de um momento em que o povo norte-americano regozija-se pela morte de Bin Laden para incutir na mente popular que a tortura é benfazeja, tanto que sem ela não era possível capturar o cadáver do maior terrorista do planeta.
O que vão dizer dessa confissão de tortura os milhões de agentes policiais de todo o mundo, alguns deles em países de ostracismo, com sua polícias minguadas de recursos?
Vão dizer: “Se o Obama pode torturar, nós também podemos”.
E o mais grave de tudo é que Obama elegeu-se pregando tratamento civilizado aos prisioneiros e frontal oposição aos métodos de George Bush, que já incluíam a tortura.
Eu tinha grandes esperanças em Obama. E essa confissão de tortura iguala-o a Bush e a todos os governantes mundiais que atropelam os direitos humanos.
São todos desconsoladamente iguais.
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