sábado, 7 de maio de 2011



08 de maio de 2011 | N° 16694
VERISSIMO


Dia das Mães

Os quatro filhos se reuniram para decidir o que fazer. Já tinha havido uma reunião, meses antes, depois da mãe deles anunciar que estava vivendo com outra mulher, chamada Noelma, com quem iria se casar assim que fosse legal. Naquela ocasião só o filho mais velho, Gustavo, se rebelara.

Sua mãe vivendo com outra mulher. Sua mãe dormindo com outra mulher! Era inconcebível. Ele não aceitava. Os outros filhos Gabriela, Guilherme e Guiomar tinham se surpreendido com a notícia (logo a dona Odalinda, que não deixava trazerem namorado pra casa!), mas aceitado.

Gustavo resistira:

– Não quero nem conhecer essa mulher.

Mas acabara conhecendo a Noelma, na festa de Ano-Novo da família. A contragosto. E sem levar os filhos, para não verem a vovó trocando beijos com a Noelma.

A reunião agora era por outra razão. Aproximava-se o Dia das Mães, e era costume “as crianças” darem presentes para dona Odalinda no Dia das Mães. A questão era: este ano, deveriam dar presentes para a Noelma também?

– Para todos os efeitos, ela é nossa madrasta – disse a Gabriela.

– Nem pensar – disse Gustavo.

A Guiomar concordou com Gustavo. Tecnicamente, Noelma não era madrasta de ninguém. Pelo menos até que se casasse com a mãe deles.

Gabriela achou que deveriam dar um presente para Noelma, nem que fosse só um marcador de livro. Para ela não se sentir enjeitada.

O voto decisivo seria do Guilherme.

– Um presente de Dia das Mães para a amante da minha mãe? Olha, eu me considero um cara moderno, esclarecido, tolerante e tudo o mais. Mas não tanto. Ainda não estou preparado para isso.

Ficou decidido. Nenhum presente para a Noelma.

Outro costume da família era o almoço do Dia das Mães, quando dona Odalinda cozinhava, e depois da sobremesa simulava surpresa ao receber os presentes dos filhos. “Ai meu Deus, não precisava!”. Todos os anos a mesma coisa. Mas neste ano havia uma novidade na mesa do almoço do Dia das Mães. A Noelma – e o filho da Noelma. Sim, Noelma tinha um filho. Chamado Hugo. Um moço dos seus 35 anos, sério, pálido, que ficara todo o almoço sem dizer uma palavra. E que no fim se levantou do seu lugar e foi buscar dois pacotes que deixara perto da porta de entrada. Um presente para a sua mãe e outro para Odalinda. Ambos caríssimos.

– Isso deve ter custado uma fortuna! – exclamou a Noelma.

– Você merece, mamãe – disse Hugo.

– Hugo! – gritou Odalinda. – Que presentão. E você não é nem meu filho!

– É como se fosse, dona Odalinda.

Foi aí que o Gustavo declarou:

– Os presentes ainda não acabaram!

E sacou um talão de cheque do bolso.

Mais tarde os irmãos, reunidos, concordaram: Gustavo fizera a coisa certa ao preencher o cheque com aquela grande quantia. Era preciso dar uma resposta à altura ao Hugo (que tinha cara de embalsamador, segundo o Guilherme). Não podiam ficar para trás. Só achavam que Gustavo exagerara um pouco quando entregara o cheque a Odalinda e dissera:

– Para as duas pombinhas que estão começando uma vida nova.

“Duas pombinhas” fora um pouco demais.

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