quinta-feira, 19 de maio de 2011



19 de maio de 2011 | N° 16704
CLAUDIA TAJES


O rapaz não pode ir

Em uma de suas crônicas, o jornalista e escritor Ivan Lessa, que mora em Londres, falou da falta que sentia dos homens brasileiros. E antes que alguém interpretasse mal, explicou: lá, para consertar um cano, o chuveiro ou o fogão, ele só conseguia contratar doutores. O homem da antena, o homem do gás e o homem da geladeira, que tão bem resolviam esses problemas no seu país natal, e a custos razoáveis, eram, para ele, uma saudosa lembrança.

Pois console-se, Ivan Lessa. No Brasil, essa cepa de homens continua existindo, mas quase nunca aparece quando marca com a gente. As exceções são honrosas, mas a regra, ao menos aqui em casa, tem sido essa.

O homem da TV a cabo, por exemplo. Pode ser por culpa de quem agenda o serviço, mas é quase certo que ele não surgirá na data combinada. O mesmo vale para o homem do telefone e o da luz. E já que o prazo deles é o horário comercial, perdeu-se um dia, sem novela, comunicação e energia, na vida de quem acreditou na visita.

O homem do ar-condicionado. Na entressafra, nem tão quente e nem tão frio, até vem. Mas se os termômetros enlouquecerem, é bom comprar um ventilador e uma estufa. O homem da árvore. Um senhor não levou o ano inteirinho esperando por ele? Foi notícia na semana passada.

O homem da prateleira. Ainda bem que empilhar tudo pela casa não tira pedaço de ninguém. O homem do box. Melhor providenciar uma cortina bacaninha para o chuveiro. O homem do sofá. Puxe a cadeira e sente no chão. O homem do porteiro eletrônico. Prepare-se para bater palmas na porta do prédio. O homem da tomada. Velas são uma opção romântica. O homem da máquina de lavar. Aproveite e economize água.

E nas vezes em que, dominando a irritação, o cliente telefona querendo saber que fim levou o homem, a resposta costuma ser: o rapaz não pode ir. Mas custava ligar avisando?

Peço desculpas a todos os prestadores de serviço que marcam e aparecem, mas a classe, infelizmente, é escorregadia. Sorte que alguém sempre conhece um novo homem de confiança para recomendar. E, no caso de ninguém conhecer, nada de pânico.

Foi para isso, também, que a natureza fez os nossos

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