segunda-feira, 16 de maio de 2011



16 de maio de 2011 | N° 16701
ARTIGOS - Paulo Brossard*


Saúde combalida

Faz algum tempo, em entrevista para uma emissora paulista de televisão, respondi que não tinha o dom de fazer previsões, mas que guardava comigo certas apreensões que me inquietavam; como é natural, o entrevistador pediu-me que dissesse alguma e, entre outros, indiquei a situação dos presídios e a dos hospitais, que em sua nobreza prestam insubstituíveis serviços especialmente às pessoas pobres, e que poderiam chegar ao ponto de fecharem as portas de entidades filantrópicas da mais alta benemerência.

Acontece que, um dos grandes jornais de São Paulo estampou notícia que começa assim: “Em meio a uma crise financeira insustentável e com uma dívida que chega a R$ 120 milhões, a Santa Casa de São Paulo ameaça fechar as portas do pronto-socorro da unidade central até o fim do mês, caso não consiga ajuda dos governos municipal, estadual e federal para reverter a situação”.

Este o fato, em linguagem direta e objetiva. Diz tudo em meia dúzia de linhas. E não se trata de cidade pequena, mas da maior cidade do Brasil, e mais não digo nem preciso dizer.

Pois bem, a situação financeira, segundo pessoa ligada à entidade, agravou-se em 2010 (exatamente quando proclamado que o Brasil gozava das delícias do maior e melhor de todos os seus governos em todos os tempos) e só tem piorado em 2011, esclarecendo o informante que o hospital atende exclusivamente pelo SUS, Sistema Único de Saúde.

A informação é que para cada R$ 100 gastos o SUS cobre R$ 60. O déficit em 2010 foi de R$ 80 milhões e nos primeiros quatro meses do ano em curso já chegou à casa dos R$ 40 milhões. Note-se, por fim, que o número de atendimentos no pronto-socorro aumentou 30% ao ano e hoje são atendidos 1.030 pessoas por dia. Ainda há outros dados interessantes.

Nos quatro meses deste ano fecharam em São Paulo três hospitais de planos de saúde e seus usuários têm de ser atendidos por alguém e os serviços da Santa Casa são os imediatamente lembrados e preferidos. Outrossim, há pessoas que só na velha casa de Nóbrega e Anchieta podem ser tratadas, as vítimas de traumas cranianos e as de violência, assim como os recolhidos pela Polícia Militar e Bombeiros e não faltam os que reclamam cirurgias e internações.

Mais não preciso dizer para dar uma ideia do problema. Confesso que, faz alguns anos, falava nos tumores que poderiam estourar e criar situação de angústias a cidades inteiras e sua regiões, mas não pensava na maior cidade brasileira e em seus problemas proporcionais ao seu tamanho e moradores. Como se viu, o caso é traumático.

Segundo a mesma fonte, o grito de desespero do Pronto-Socorro da Santa Casa de São Paulo movimentou as três esferas do governo e queira Deus seus esforços sejam de modo a libertar São Paulo e o Brasil de um flagelo iminente.

Já imaginou o leitor se serviços como os prestados pelo Pronto-Socorro e a Santa Casa de São Paulo e de outras entidades semelhantes cerrassem suas portas? Quem faria o que eles fazem? O fechamento do Pronto-Socorro não pode ocorrer.
*Jurista, ministro aposentado do STF

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