sábado, 21 de maio de 2011



21 de maio de 2011 | N° 16706
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


O gado no Rio Grande do Sul

O primeiro animal que o homem domesticou foi o cachorro, osegundo foi o porco, o terceiro foi o boi, a partir de várias espécies selvagens. O quarto seria o cavalo – sem falar nas aves, como os galináceos. O boi foi sempre animal de tração e fornecedor de carne.

Em 1534, Martin Afonso de Souza trouxe à capitania de São Vicente touros e vacas cuja descendência será contrabandeada para o Paraguai e, em 1634, virá para o Rio Grande do Sul trazida pelo padre jesuíta Cristobal de Mendoza.

Nas pastagens do pampa, se reproduziam com facilidade, formando extensos rebanhos, os quais terminaram atraindo a atenção dos mercados manufatureiros na Europa Central, dependentes do couro e da graxa vacuns. Barcos e frotas sob as ordens de reis ou de piratas entravam pelo Rio da Prata em busca desse produto. Ficaram famosas as Vacarias do Mar, cujo epicentro era a Colônia portuguesa do Santíssimo Sacramento.

Os homens que iam caçar o gado para extrair-lhe couro e sebo eram aventureiros espanhóis ou portugueses, que “vieram fazer a América”, muitas vezes prófugas da justiça do Rei, desertores da marinha e do exército, mas sempre homens de coragem e decisão, habituados ao uso das armas.

Qual o gado que os jesuítas introduziram no Rio Grande? De remota origem portuguesa, descendentes dos que Martim Afonso de Souza trouxera. Chamado de gado crioulo (cria da terra), também de “colonão”, por se acreditar que era originário da Colônia do Sacramento.

Importante é frisar que a economia dos povos missioneiros não era baseada no gado, mas na erva-mate. O gado só interessava para alimentação dos índios, os quais, segundo o padre Sepp, eram de uma voracidade incrível! Mas o jesuíta foi o criador da estância gaúcha quando se deu conta de que precisava disciplinar a criação do gado, treinando índios campeiros, que chamavam vaqueros.

Estabelecidas naturalmente, as Vacarias do Mar abrangiam toda a metade inferior do Rio Grande do Sul e boa parte do território uruguaio. Esses caçadores de gado (lagunistas, colonistas, índios missioneiros, minuanos, correntinos, santafesinos, desertores, fugitivos, aventureiros) serão os primitivos gaúchos.

O nome do jesuíta que trouxe o gado para este lado do rio Uruguai era Cristobal de Mendoza Orellana. Gado, em espanhol, é palavra feminina: hacienda. Esse primeiro gado era hacienda orellana, animais sem marca. Em português, gado é palavra masculina. Os animais sem marca passaram a ser entre nós, até hoje, gado orelhano.

Para lagunenses e colonistas, o gado vai ser uma enorme riqueza. Quando os bandeirantes expulsaram os jesuítas, em 1641, estes não puderem levar os imensos rebanhos, e os animais reproduziram-se no pampa de tal modo que os primeiros caçadores falavam em “mar de guampas”. Para caçá-los, foi necessário surgir um homem forte, que dominasse o cavalo, sem medo da distância, da solidão, do inimigo castelhano, dos índios hostis e até das feras, como onças e cachorros chimarrões.

Ou seja, o gado vai ser o grande responsável pelo surgimento do gaúcho no pampa americano. Não em todo ele, exatamente, mas nas Vacarias do Mar.

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