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terça-feira, 31 de maio de 2011
31 de maio de 2011 | N° 16716
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Doce de pronunciar
Quando eu estudava no Curso Clássico, então um ritual de passagem para o vestibular e para a universidade, era um requisito básico conhecer a língua portuguesa. Isso significava dominar tanto a ortografia, como as normas de concordância verbal e nominal, sem falar, é claro, na gramática.
Pois não é que agora o MEC abençoa a publicação – e paga – de um livro, adotado por meio milhão de alunos do ensino fundamental, que ensina que a norma culta é apenas mais uma entre as maneiras de expressar-se? Traduzindo: quando eu digo os automóvel, ao invés de os automóveis, estou apenas usando uma variação popular do idioma, perfeitamente aceitável.
Trata-se de um erro crasso. Em uma época na qual a competição profissional exige exatidão e conhecimento, uma frase tipo Eu amo os livro é o caminho mais curto rumo ao insucesso num concurso ou numa prova de admissão.
Falei antes no Curso Clássico. Era o percurso obrigatório para quem desejava uma vaga numa Faculdade de Direito, Letras ou Filosofia. Isso não absolvia os estudantes do Curso Científico de se aplicarem na língua portuguesa, mesmo se seu destino fosse uma Escola de Engenharia ou de Medicina.
Nos mergulhavam até em Camões. As aulas de análise sintática – base do Latim – nos ocupavam por horas inteiras. E quem não entendesse nem Camões nem o Latim não passava de ano.
Tudo isso tinha um propósito. Era o de nos familiarizar com a norma culta, sem a qual ninguém ia a lugar nenhum. Literalmente, mesmo que você fosse um aluno de Física Quântica, era necessário que soubesse escrever 30 linhas de uma redação em que o sujeito chamasse e o predicado respondesse no tom exato, com pontos, vírgulas e complementos no lugar certo.
Sei que hoje tudo é diferente. Por alguns anos até, a redação acabou sendo banida do vestibular e o Francês, o Latim e a Filosofia expulsos dos currículos. As coisas felizmente vêm mudando para melhor.
Mas nada autoriza o MEC a aprovar, financiar e distribuir obras que agridem o idioma.
Pois a língua portuguesa é, segundo Rodrigues Lobo, branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar.
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