quinta-feira, 19 de maio de 2011



19 de maio de 2011 | N° 16704
PAULO SANT’ANA


Alegria e medo

E veio vindo assim esquivo e sorrateiro o medo de morrer, de mãos dadas com a alegria de viver.

Aí me respondam uma questão: pode quem tem medo de morrer ter alegria de viver?

Pode. Por exemplo, alguém tem tanta alegria de viver, que por isso mesmo passa a ter medo de morrer.

Por outras palavras, só pode ter medo de morrer quem tem alegria de viver.

Quem é permanente e definitivamente triste não está nem ligando para o risco de morrer.

O único ser que tem alegria de viver e não tem medo de morrer é a criança.

Mas a criança é idiota. A criança só tem dominância cerebral a partir dos oito anos de idade.

Mas outro dia tive a alegria de me encontrar demoradamente com um amigo muito inteligente.

Não adianta você ser inteligente e não ter nenhum amigo ou amiga inteligente.

A melhor maneira de criar é estarem juntas duas pessoas inteligentes. Desse diálogo, surgem as ideias mais construtivas e brilhantes. Mais do que se estivessem sozinhas, sem contato, as duas pessoas.

Mas vejam a ideia que surgiu de nós dois, os amigos que se encontraram.

Percebemos na nossa conversa que é preciso gostar do trabalho, amar o trabalho, mas não se pode deixar escravizar-se pelo trabalho.

É preciso gostar de nossos filhos, amá-los até o êxtase, mas não se pode deixar escravizar-se pelos filhos.

É imprescindível amar-se uma mulher, amar um homem, mas não se pode deixar escravizar-se pelo seu amor.

A essa conduta dá-se o nome de equilíbrio.

O ministro-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, Antonio Palocci, questionado pela oposição e pela imprensa por ter aumentado seu patrimônio pessoal em 20 vezes, de R$ R$ 400 mil para quase R$ 8 milhões, em apenas quatro anos, publicou uma nota de justificação espetacular.

Disse que não só ele, mas todos os ex-ministros da Fazenda, o que ele também é, enriqueceram depois de passar pelo cargo. E citou o nome de muitos deles.

O que Palocci quis dizer é que é tão grande a nomeada dos ministros da Fazenda, que, depois que deixam o cargo, enriquecem prestando consultoria a empresas privadas, ganhando rios de dinheiro.

Basta ser ministro da Fazenda para ganhar mais tarde uma Mega Sena acumulada em consultorias.

Esse testemunho tranquiliza de um lado e preocupa por outro.

De uma face, não precisa se corromper porque é ministro da Fazenda, enriquecerá depois com consultorias.

Mas, de outra face: quer dizer, então, que aprende todos os segredos da máquina pública, inclusive combate à sonegação, e depois vai ensiná-los a troco de muito dinheiro para a iniciativa privada?

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