sábado, 21 de maio de 2011



22 de maio de 2011 | N° 16707
ARTIGO | SIMON JOHNSON


ARROGÂNCIA E AUTORIDADE


É cada vez mais comum ouvir proeminentes banqueiros europeus e americanos declararem, a respeito da crise de 2008-2010, o seguinte veredito: fizemos bem. Sua visão é de que as várias ações governamentais para apoiar o sistema financeiros contribuíram para estabilizar a situação.

Mas enquadrar a questão dessa maneira é, na melhor das hipóteses, cair em delírio. Na pior, porém, significa criar uma imagem de arrogância que pode apenas minar a credibilidade na qual a autoridade dos bancos centrais repousa.

O custo real da crise não é medido pelo lucro e perda de qualquer banco central. O custo é de 8 milhões de empregos somente nos Estados Unidos, com a taxa de emprego caindo 6% em seu pico e – uma diferença fundamental de outras recessões pós-1945 – permanecendo 5% abaixo desse pico atualmente.

O custo é também de aumento da dívida líquida do governo federal em poder do setor privado. Comparando-se as previsões do Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA (CBO, na sigla em inglês) em médio prazo, antes (em janeiro de 2008) e depois da crise, esse aumento da dívida significa 40% do PIB.

A razão de existir uma percepção de crise fiscal nos EUA é simples: os bancos entraram em colapso com um grande custo para o povo americano, com grandes implicações globais negativas.

Muito do aumento da dívida pública nos EUA e em outros lugares não ocorre devido a qualquer tipo de estímulo fiscal discricionário. Ocorre, na verdade, devido à perda de receitas fiscais resultante de uma profunda recessão. Finalmente, o custo da crise é de milhões de casas perdidas e vidas danificadas.

A questão não é se o Fed, ou qualquer outro banco central, deveria buscar a prevenção de colapso do sistema bancário de seu país. De maneira mais ampla, como Dennis Lockhart, presidente do Federal Reserve de Atlanta, disse na semana passada em uma conferência pública organizada por sua instituição, não deveríamos tentar operar um sistema baseado no princípio de “ganhos privados e perdas públicas”.

Os ganhos privados podem ser medidos na forma de remuneração de executivos. De 2000 a 2008, aqueles que dirigiam as 14 maiores instituições financeiras nos EUA receberam compensação em dinheiro (salário, bônus e o valor das ações vendidas) de cerca de US$ 2,6 bilhões.

Dessa quantia, cerca de US$ 2 bilhões foram recebidos pelos cinco indivíduos mais bem pagos, que foram essenciais para a criação das estruturas de ativos de alto risco responsáveis por levar o sistema financeiro à beira do abismo. As perdas públicas, em comparação, são enormes: cerca de US$ 6 trilhões, se nos limitarmos apenas ao aumento na dívida pública federal.

Há muitas vantagens em ter um banco central independente comandado por profissionais que conseguem manter distância dos políticos. Mas, quando as pessoas no topo dessas instituições insistem em que a resposta à crise deu certo e que tudo vai ficar bem, mesmo quando os monstros financeiros responsáveis pela crise continuam em movimento, sua credibilidade sofre.

A Constituição americana não garante a independência do Fed. O Congresso criou o Fed, o que significa que pode acabar com o Fed. Ao assumir que o dano de que os megabancos altamente alavancados são capazes está longe, o mito de uma “crise boa” apenas torna a pressão política sobre os bancos centrais mais provável.

Simon Johnson, ex-chefe de economia do FMI, é professor do MIT Sloan e pesquisador sênior do Instituto Peterson para Economia Internacional

Tradução: Guilherme Justino

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