sábado, 28 de maio de 2011



28 de maio de 2011 | N° 16713
PAULO SANT’ANA


O trambolho no meio-fio

Vejam se não é fantástico este episódio que está se desenrolando na Rua Liberdade, número 170, Bairro Rio Branco, em Porto Alegre.

Há meses, foi abandonado naquele local, evidentemente que no leito da rua, um carro de marca Mondeo.

Durante três meses, o carro ficou abandonado na rua, o dono do carro ou ladrões o abandonaram na rua.

Até aí, tudo bem. Não sei se durante esses 90 dias houve moradores da rua que telefonaram para a prefeitura para pedir a remoção do carro.

O que sei é que agora a Rua Liberdade está sofrendo reformas no seu asfaltamento.

E, para tanto, a EPTC ou a Secretaria de Obras removeu o carro para junto da calçada defronte, ficando o veículo diante de um prédio de apartamentos.

Só que, depois de reasfaltada a rua, restou no leito dela, do outro lado da origem, o carro Mondeo, como um monumento ao descuido do poder público com a ordem urbana nos logradouros.

Pasmem os leitores com o último acontecimento em torno do carro da Rua Liberdade: o condomínio defronte ao qual está estacionado o carro Mondeo agora foi intimado pelas autoridades a retirar dali, com urgência, o carro abandonado.

O raciocínio das autoridades é de que, não havendo donos para o leito da rua, o “dono” presumido será aquele proprietário de imóvel mais próximo da incidência do abandono do carro, no caso o condomínio adjacente.

Ou seja, a fina flor do burocratismo alimentado no terreno fértil da coisa pública lançou a sua sentença: o condomínio, ou seja, o prédio mais próximo do carro abandonado, será responsável pela retirada dele do leito da rua.

É um absurdo tão grande, uma idiotice tão estrepitosa como seria cobrarem de qualquer cidadão os cuidados veterinários a um cão pestilento que recém invadiu o quintal da sua residência.

Notem a estupidez a que se dedica a burocracia: certamente, quando removeram o carro de lugar na rua para asfaltá-la, ali já deveriam a autoridade ou seus agentes saber quem era o proprietário do veículo, para solicitar dele a remoção.

Não o fizeram. E, manu militari, atiraram o carro para a frente do condomínio.

Asfaltaram a rua e agora querem-na livre do trambolho indesejável. A máquina pública, no entanto, se exime de qualquer tarefa na remoção do carro, deseja que ela seja custeada pela iniciativa privada, que nada tem a ver com esse curioso impasse.

Isso se chama, em qualquer lugar civilizado, uma arbitrariedade.

Para a qual devem ter contribuído dezenas de beócios, pessoas que não raciocinam, pois se um deles só tivesse raciocinado, esse carro há muito tempo já teria sido recolhido a um depósito público.

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