sábado, 28 de maio de 2011



28 de maio de 2011 | N° 16713
NILSON SOUZA


O avô do pirata

Cada vez que vejo Jack Sparrow, me lembro do Capitão Blood. Há um oceano de distância entre um e outro, mas no meu imaginário eles são parentes próximos. Juntando as pontas, Sparrow – todo mundo sabe – é o afetado comandante do Pérola Negra, o navio fantasma da série Piratas do Caribe, agora em três dimensões.

Peter Blood – talvez nem todos os leitores saibam – é uma espécie de avô de Sparrow. Personagem imaginado pelo escritor Rafael Sabatini, Blood é um médico irlandês desterrado para a Jamaica como escravo, que acaba se transformando em pirata e formando com a sua tripulação de ex-cativos uma imbatível armada flutuante.

O livro é tão empolgante, que nem precisavam ter feito o filme. Sabatini, exímio contador de histórias, especializou-se em romances de aventura de capa e espada. Comecei a ler aquele livro e não pude parar mais.

Em seguida, descolei um segundo volume, A Volta do Capitão Blood. Devorei-o com a mesma avidez e depois fui para O Gavião do Mar, que segue no mesmo embalo – navegadores audazes, bucaneiros sem pátria, mas defensores de causas defensáveis, sempre com toques de coragem, humanidade e humor.

Quando o escritor morreu, em 1950, aos 75 anos, sua mulher mandou gravar na lápide do seu túmulo a primeira frase de um de seus romances mais célebres, Scaramouche: “Nasceu com o dom do riso e a crença de que o mundo estava louco”...

Me diverti muito com as loucuras do Capitão Blood e com suas manobras espirituosas para iludir vilões de todos os calibres. A literatura é um poderoso estímulo à imaginação. Um texto bem escrito tem o poder de cativar, de emocionar, de levar o leitor para o centro da história.

Por mim, nem precisavam ter feito o filme. Mas fizeram. E foi um sucesso mundial, com Errol Flynn interpretando o herói e se consagrando como galã. Mas Johnny Depp também é show no papel de Jack Sparrow. Dizem que ele se inspirou no roqueiro Keith Richards, dos Rolling Stones, para encarnar aquele pirata cheio de trejeitos. Se é verdade, ficou melhor do que o modelo.

E os roteiristas ainda meteram na sua boca frases engraçadas e inteligentes. Como essa, pronunciada no episódio do Baú da Morte: “Nos desonestos pode-se sempre confiar na desonestidade. Honestamente, os honestos é que deveriam ser vigiados, pois nunca se sabe quando farão alguma coisa realmente estúpida”.

Genial. O Capitão Blood ficaria orgulhoso do seu neto.

Lindo sábado para você. Gostoso fim de semana.

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