quinta-feira, 5 de maio de 2011



05 de maio de 2011 | N° 16691
PAULO SANT’ANA


Não quero ver Bin Laden

Zero Hora completou ontem 47 anos de existência. Milhares de trabalhadores em oficinas, redação, setores comerciais e administrativos passaram por suas instalações durante este quase meio século.

Há os que faleceram, há os que foram seguir outros destinos e há os que permanecem aqui na trincheira, servindo aos leitores gaúchos.

Aconteceu festa discreta por aqui, mas houve duas tortas gigantes em talhadas para a Redação.

Repito para nosso jornal a saudação que os gladiadores faziam ao imperador César, no Coliseu, antes de entrarem em combate:

– Ave, Zero Hora! Os que vão morrer te saúdam.

Estou usando um sabonete com glicerina para crianças. Também estou usando uma manteiga de cacau para lábios infantis. Além disso, o gel desidratante com que faço massagens nas mandíbulas, no queixo e nas laterais das faces é recomendado para crianças.

Tudo isso, sob receita médica. Cheguei à conclusão de que, quando se envelhece, começamos a ser tratados como crianças.

Estou à espera de que a qualquer momento me receitem fraldas e uma fisioterapeuta me prescreva exercícios num triciclo.

Dentro do terreno das hipóteses casadas com fatos constantes de notícias, concordo que os EUA não estejam mostrando fotos do cadáver de Bin Laden, embora já tenham confessado que possuem esses documentos.

É muito brutal mostrar o rosto de um cadáver que foi destroçado por um tiro potente de arma não convencional. O espetáculo de um rosto desfigurado por um projetil (ou vários) é desaconselhável, ainda mais exposto em capas de jornais e revistas do mundo inteiro.

É por isso que, quando a gente vai a um velório, os rostos dilacerados dos cadáveres são escondidos por um lenço ou então o caixão fica fechado exatamente para que não se tenha a visão desconcertante das feições massacradas.

Andam bem os responsáveis por pouparem o mundo dessas visões macabras.

Voltando aos 47 anos de Zero Hora, comemorados ontem. Desses 47 anos, sou testemunha de 40 anos. Só não vi sete.

Não havia quase nenhuma mulher na redação de ZH há 40 anos. Hoje, o raro é um homem, catado aqui e ali na Redação.

Não havia computadores, só o martelar das teclas das máquinas de escrever e dos telex e uma balbúrdia a cada canto, risadas, vozes fortes, discussões. Hoje, a Redação mais parece uma repartição do SNI, todos ligados nos tubos, o silêncio como uma máxima, só se o discrepa no bar ou no fumódromo.

Oh, que tempos saudosos os da Zero Hora antiga, quando a gente não era hegemônico e se lutava desesperadamente para um dia atingir a liderança hoje ostentada.

Muito trabalho e muito talento estão por baixo desses 47 anos de lutas e de vitórias.

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