quarta-feira, 25 de maio de 2011



25 de maio de 2011 | N° 16710
PAULO SANT’ANA


Impunidade

Uma turma do Supremo Tribunal Federal mandou ontem que fosse imediatamente recolhido à prisão o jornalista Pimenta Neves, que matou no ano 2000 a sua namorada, a também jornalista Sandra Gomide.

Ele executou pelas costas a sua namorada. Foi um assassinato covarde e premeditado, além de que teve motivo fútil.

Só em 2006, seis anos depois, foi condenado a 15 anos de prisão.

Por estranha causa, ele nunca esteve preso depois de condenado.

Isso só pode ter sido omissão dos juízes que julgaram seus recursos.

Não tem explicação uma coisa dessas. Aqui, ao nosso redor, há casos de réus de homicídio que vão para trás das grades durante anos, em prisão somente preventiva, sem condenação.

Com Pimenta Neves se dá o contrário. Está há cinco anos condenado e nunca ficou só um dia na prisão.

Nunca vi tanta injustiça a depor contra a Justiça.

E, por ter mais de 70 anos, em breve seu crime prescreverá e ele vai acabar não cumprindo mais de um ou dois anos de prisão.

Um escândalo jurídico nacional.

Há muito tempo não me acontecia, mas muito já me aconteceu no passado.

Ocorre que ontem duas pessoas se comunicaram comigo, suplicando que eu lhes arrumasse um emprego.

Perguntei a uma delas: o que te levou a me procurar?

Ela respondeu que eu sou uma pessoa muito bem relacionada, que alguém das minhas relações podia empregá-la.

Para esse tipo de coisa sou completamente atrapalhado. Não sei como fazer. Não sei nem como pedir a alguém que arrume emprego para outra pessoa.

Mas fico penalizado com a situação dessa mulher.

Ela está há tempo sem emprego, mas foi durante mais de 20 anos secretária de médicos. Ou seja, ela é pessoa que tem experiência, tem currículo.

Mas, quando perdeu o último emprego, não encontrou mais nenhuma ocupação.

Deve ter idade em torno de 47 anos, conhecia-a justamente nos consultórios médicos.

E, porque a conheci é com ela tive cordiais relações, é que me apiedo.

Ela me escreveu que, desesperada, andou até planfleteando junto a um prédio do INSS, propaganda para um advogado, quando ganhava R$ 20 por dia.

Eu não sei o que fazer, mas ela acabou jogando sobre mim uma cruz: esta notícia de que ela está desesperada atrás de uma colocação.

O que eu acho digno nesse tipo de pessoa é que ela não está pedindo dinheiro, não está rogando outra ajuda que não seja um emprego.

Ou seja, quer trabalhar. Será demais e indevido querer trabalhar para seu sustento?

E todas as portas se fecham para ela. Como se sentirá uma pessoa neste caso? Amassada, é a resposta. Quase louca de impotência, vendo a miséria bater todos os dias à sua casa.

Imagino quais tenham sido as reações dela, a partir de que até para mim recorreu, lembrando-se de que era minha conhecida.

Mas eu me culpo por não ter solução para ela.

E será que alguém tem? Ela diz que aceita qualquer serviço.

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