sexta-feira, 13 de maio de 2011



13 de maio de 2011 | N° 16699
DAVID COIMBRA


As armas para vencer a guerra

O pequeno Walter era pequeno mesmo, tinha 10 anos de idade quando esmagou o dedo indicador da mão direita trabalhando no torno de uma fábrica de sapatos de Hamburgo Velho. Como se estava em 1922 e não existia qualquer instituto de previdência, ou enfermaria na empresa, ou hospital por perto, os chefes enfaixaram-lhe a mão e mandaram-no de volta para casa. O dedo do menino ficou torto, em forma de gancho, pelo resto da vida.

Quando ocorreu o acidente, fazia já algum tempo que Walter trabalhava na fábrica de calçados. Era preciso. Seus pais eram imigrantes alemães, não ganhavam o suficiente para sustentar a família. Ele mesmo só falava alemão e, embora passasse o dia fabricando calçados, não tinha um único par de sapatos.

Calçava tamancos de madeira no inverno e no verão. Walter cresceu, ele e seu dedo que parecia uma garra de ave, e jamais se afastou da lida dos calçados. Formou-se sapateiro, casou-se, teve duas filhas, uma das quais é Dona Diva, a mãe do degas aqui. Quer dizer: o pequeno Walter, depois de grande, tornou-se meu avô.

Suas condições de vida e de trabalho em 1922 seriam o sonho dos empresários brasileiros de hoje. Não todos, claro. Existem empresários que compreendem que pagar bons salários pode ser positivo para todos, os que pagam e os que recebem. Mas não são a maioria. Prova? Os recentes fechamentos de unidades de empresas naquela região em que meu avô trabalhava quando menino.

Por que essas empresas saem do RS e vão para lugares longínquos, como o nordeste brasileiro, a Índia e a China? Por causa da guerra fiscal, sim, mas não só por causa da guerra fiscal. O que as arrasta para essas distâncias é a possibilidade de pagar salários baixíssimos para os seus funcionários. Na China, inclusive, há meninos de 10 anos de idade fabricando calçados e, muito provavelmente, amassando seus dedos nos tornos.

E agora? O que fazer? Um retrocesso sistemático? Obrigar os trabalhadores gaúchos a viver nas condições de 1922?

A resposta é não, óbvio.

A resposta talvez esteja no mesmo lugar do qual veio o meu avô, a Alemanha. Na Alemanha, os assalariados ganham bem e trabalham pouco. Mesmo assim, a Alemanha é uma economia competitiva.

Como consegue essa mágica econômica? Com qualidade.

A qualidade do trabalho e dos produtos da Alemanha é alta, obtida pelo resultado de séculos de investimento em Educação.

E agora parece que estou escrevendo algo que já escrevi, parece que estou me repetindo. Pois estou mesmo. Não mudo de assunto porque o problema não muda. O problema é que o brasileiro precisa de Educação de qualidade para se tornar um cidadão de qualidade, bem como um trabalhador de qualidade.

Educação, Educação. O brasileiro e o Brasil só conseguirão se defender se houver investimento em Educação no país. Entrar na guerra fiscal não vai adiantar de nada, se o soldado não tiver armas para lutar.

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