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terça-feira, 17 de maio de 2011
17 de maio de 2011 | N° 16702
CLÁUDIO MORENO
O eterno desafio
No início dos anos 70, poucos meses depois que o homem pisou na superfície virgem da Lua, exploradores de cavernas finalmente entraram numa galeria perdida das grutas de Niaux, no sul da França, famosas por abrigar um grande número de pinturas do período paleolítico.
A formação de um lago subterrâneo tinha fechado completamente os pontos de entrada desta parte da gruta, deixando-a inacessível por mais de 10 mil anos; agora, aproveitando que o nível do lago havia baixado, técnicos bombearam água para fora dos túneis e ingressaram pela primeira vez naquele grande e silencioso salão.
Ali, numa das paredes de rocha, a mão hábil de um longínquo antepassado havia traçado, a riscos de carvão, as figuras perfeitamente reconhecíveis de cavalos e bisões, similares às que geralmente se encontram nesses sítios pré-históricos.
O grande achado, no entanto, estava no chão: ao longo dessa parede, uma larga faixa de areia intocada guardava as marcas dos pés dos últimos seres humanos que haviam passado por ali antes que alguma mudança geológica selasse aquela caverna.
Os rastros, tão nítidos como se datassem de ontem, indicavam que três crianças, por volta de seus 10 anos, haviam entrado naquele salão, caminhando lado a lado – talvez até de mãos dadas –, acompanhadas de um adulto, o qual, ao que tudo indica, seria o autor dos desenhos.
O que fariam essas crianças ali, tão longe da entrada principal? Antropólogos sugerem algum ritual importante, provavelmente um momento solene de despedida da infância em que os futuros caçadores ouviriam da boca de um adulto experiente os segredos da vida e da morte de suas futuras presas ou dos predadores de sempre.
Como um professor faz com seus alunos, tratava-se de transmitir o saber acumulado da espécie para que a geração seguinte pudesse seguir o seu ciclo e fazer o mesmo com seus filhos e netos, atividade fundamental para qualquer sociedade humana que deseje sobreviver.
Aqui talvez esteja a causa dos problemas da escola moderna: se estamos em crise, é exatamente porque, em algum lugar do caminho, perdemos a certeza sobre o que deveríamos transmitir aos que vêm depois de nós.
Seduzidos pela ideia de outros mundos possíveis, esquecemos, como muito bem lembrou Hannah Arendt, que o duro compromisso de quem ensina é com o mundo presente, com o qual, inclusive, podemos não concordar.
Temos o direito de pensar num mundo diferente e lutar por ele, mas nossas crianças, como as da caverna de Niaux, precisam, antes de mais nada, que os adultos as tornem aptas a enfrentar as feras que, neste exato momento, estão rondando lá fora.
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