sábado, 28 de maio de 2011



29 de maio de 2011 | N° 16714
PAULO SANT’ANA


Metade amputada de mim

Eu ando há seis dias perplexo com o que aconteceu com o Alemão Caio, que em Torres matou o companheiro de sua ex-mulher.

O Alemão Caio, houve um tempo em que era proprietário da Pizzaria Fratello Sole, na Rua Quintino Bocaiúva, esquina da Marquês do Pombal, aonde eu ia jantar todas as noites e virei de seu cliente em seu amigo.

Pois ele agora cometeu o desatino. Matou o namorado de sua ex-mulher e ainda tentou matá-la, não o conseguindo porque chegou a polícia.

Quem me lê há muito tempo sabe que sou fixado nesse assunto de ciúme sentido por homem desprezado.

Uns anos atrás, uma mulher perseguida por seu ex-marido veio aconselhar-se comigo. Ele vinha se mostrando muito agressivo e ela temia que fosse assassinada por ele.

Eu só pude lhe dizer o seguinte: “Sabes o que está sentindo teu ex-marido? Pois, então, fica sabendo: a dor que ele está sentindo é pior que a da cólica renal, pior que a dor do parto, é a mais temível de todas as dores”.

Perder uma mulher, para um ciumento, não é nada. O insuportável para um ciumento é perder sua mulher para outro homem.

Chico Buarque descreveu essa dor:

Oh, pedaço de mim, oh, metade arrancada de mim,

Leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto.

A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.

Oh, pedaço de mim, oh, metade amputada de mim,

Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada

É assim como uma fisgada no membro que já perdi.

Tristes e desgraçados são os homens que sofrem essa dor.

Essa falta, essa dor, leva alguns homens à loucura de assassinarem suas ex-mulheres ou namoradas, um crime imperdoável.

Se suas ex-mulheres se separassem deles e fossem viver para sempre sozinhas, eles suportariam galhardamente.

Eles só não suportam quando suas ex-mulheres arranjam outros homens: então eles ficam possuídos de um ciúme que se transforma ali em ódio e matam pelo que consideram esbulho possessório.

Interessante que isso não acontece com mulheres. Raramente uma mulher mata um ex-marido por ciúme. Mas homem matando mulher por ciúme acontece todas as semanas.

É da natureza psíquica do homem considerar-se “dono” da mulher. E considerar que a mulher é um objeto, uma propriedade intransferível.

E, se alerto que esses crimes passionais são graves e merecem as mais graves penas, só chamo a atenção novamente, porque sou homem, que eles nascem da pior dor que possa ser infligida a um homem.

Nenhum comentário: