sábado, 5 de junho de 2010



“Lena, te amamos!”

A Europa festeja a cantora alemã Lena Meyer-Landrut que venceu o festival da canção do continente
Paulo Nogueira, de Oslo

Jörg Carstensen
INOVAÇÃO ALEMÃ
Lena, a diva adolescente. Sorriso fácil, boa voz e uma canção americana

Ela não se veste como Lady Gaga, não bebe como Amy Winehouse, não tem os decotes nem as curvas de Beyoncé, não dança como Madonna, não é bizarra como Susan Boyle. Mas nos últimos dias todas essas cantoras têm parecido pequenas diante da adolescente alemã Lena Meyer-Landrut.

Aos 19 anos, completados no final de maio, Lena é a sensação musical da primavera no Hemisfério Norte.

Com seu estilo original – roupas simples, maquiagem discreta, voz sem berros, mas intensa na hora certa, passos graciosos e um ar de menina doce e simples –, Lena conquistou para a Alemanha o Eurovision, o maior festival de música da Europa. “Satellite”, a canção que ela interpretou em Oslo, a capital da Noruega, sede neste ano do Eurovision, se tornou uma espécie de hino jovem europeu.

“Satellite” é aquele tipo de música que você ouve e depois, sem se dar conta, está cantando.

A grande final da competição, na moderna Telenon Arena de Oslo, foi acompanhada por um público calculado em 100 milhões de pessoas, um dos maiores na história da televisão na Europa. A decisão é fruto de um sistema que mistura o voto popular (por telefone ou SMS) à voz de jurados especializados.

Cerca de 40 países disputaram o Eurovision em 2010. Na primeira etapa, cada um deles fez, por uma rede de TV local, sua escolha. Definidas as músicas, Oslo entrou em cena em meados de maio. Durante duas semanas ensolaradas, a bela e alegre cidade de quase 350 lagos presenciou múltiplos ensaios e duas semifinais antes da grande noite em que a favorita Lena sairia coroada.

Como em todas as competições, houve júbilo e houve lágrimas. A mídia britânica tentava entender e explicar, depois de anunciados os resultados, como o Reino Unido conseguira terminar na última colocação, atrás de países como Albânia, Chipre e Sérvia. O Eurovision fez com que, pelo menos por alguns momentos, os europeus tirassem a cabeça da enorme crise econômica que coloca em risco a sobrevivência do euro como moeda comum de vários países.

A vitória foi festejada como uma Copa do Mundo pelos alemães. Lena foi recebida em sua cidade natal, Hannover, onde está terminando o equivalente ao ensino médio, como uma heroína. Quarenta mil pessoas enfrentaram uma chuva para vê-la chegar ao aeroporto. Com seu sorriso fácil, uma de suas marcas, ela tratou de recomendar à multidão que se protegesse da chuva.

A chanceler Angela Merkel disse que ela é um exemplo e uma inspiração para os jovens alemães. “Lena, amamos você!”, exclamou o jornal sensacionalista Bild. Até a vitória, o Bild ignorou Lena porque ela se recusara a conceder entrevista a seus jornalistas.
‘‘Quando eu canto, não penso em nada. Simplesmente canto’’ LENA MEYER-LANDRUT, vencedora do Eurovision

O Eurovision surgiu em 1956. A intenção era ajudar a reintegrar um continente que saíra destruído e dividido da Segunda Guerra Mundial. Foi uma competição modesta nos primeiros anos. Na década de 70, quando tinha já um tamanho médio, o Eurovision revelou os suecos brilhantemente cafonas do Abba com “Waterloo”, a música vencedora de 1974.
Daniel Sannum Lauten

TALENTO

Lena canta em Oslo, na noite que a consagrou. Ela ainda não terminou

O festival começou a tomar vulto mesmo com a globalização, nos anos 90. Hoje, é uma superprodução que mobiliza dezenas de milhões de pessoas e em torno da qual gira uma indústria vigorosa e em expansão.

O país vencedor ganha o direito de ser a sede no ano seguinte. Já existe uma discussão animada entre os alemães sobre as cidades que merecem abrigar o Eurovision em 2011.

A Alemanha foi recompensada pelas inovações. Pela primeira vez em mais de meio século de competição os alemães inscreveram uma música em inglês.

Outro passo fora da caixa é o fato de que “Satellite” não foi obra de um compositor local: foi comprada num estúdio americano especializado em fazer hits, o Redzone, de Atlanta. “Umbrella”, de Rihanna, foi criada pelo Redzone. “Satellite” não foi sequer composta especialmente para o Eurovision.

Foi escrita há três anos por uma dupla de compositores e estava na prateleira do estúdio à espera de uma oferta.

As ousadias alemãs receberam a contribuição milionária do talento natural, despojado e promissor de Lena. Numa entrevista em Oslo, durante as duas semanas de competição, perguntaram a ela no que pensava ao cantar. “Quando eu canto, não penso em nada”, disse Lena. “Simplesmente canto.”

Ela tem o maior atributo de uma diva: quando canta, o mundo ouve. A Europa está apaixonada por ela: “Satellite” é número um em downloads em vários países do continente.

Lena é a namoradinha dos europeus – e esse é um caso de amor que tem tudo para ser longo e feliz.

Nenhum comentário: