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quinta-feira, 3 de junho de 2010
CLÓVIS ROSSI
Tão pobres e tão contentes
SÃO PAULO - Era uma vez a inauguração do pavilhão brasileiro na feira de Hannover (Alemanha), presente o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Para animar a festa, foi arrebanhado um grupo de frevo, naturalmente pernambucano. Enquanto esperavam a vez de atuar, tiritavam de frio nos bastidores, vestidos com as roupas relativamente sumárias exigidas para o espetáculo.
Quando entraram em ação, mostraram a alegria de praxe. Pensei comigo, sinceramente condoído: tão pobrezinhos, mas tão alegres.
Não consegui impedir que a memória voltasse a essa cena ao ler anteontem a reportagem em que Larissa Guimarães relata que, mesmo com os benefícios do Bolsa Família, a renda das famílias no Norte e no Nordeste não consegue ultrapassar a linha de pobreza.
Linha, aliás, estabelecida em R$ 70, o que torna mais justo chamá-la de linha da miséria.
Não obstante tal nudez de rendimento, as famílias do Norte e do Nordeste estão tão alegrinhas que transformaram Luiz Inácio Lula da Silva, cuja imagem está colada ao Bolsa Família, em uma espécie de Padim Ciço dos novos tempos.
Repito, porque os hidrófobos e debiloides do lulo-petismo não conseguem pensar, que não se trata de ser contra o Bolsa Família. Trata-se, pura e simplesmente, de reconhecer o óbvio, como o faz a reportagem de Larissa: por muito necessário que seja, por avanços que de fato traz, não basta nem para tirar os beneficiários da pobreza quanto mais para proporcionar uma mudança estrutural.
Ah, essa situação torna ainda mais patética a afirmação que gente do governo faz -e analistas distraídos ou de má-fé reproduzem mecanicamente- de que está havendo queda da desigualdade no Brasil. Como, se o Bolsa Família leva algo em torno de 0,4% do PIB e o pagamento dos juros ao andar de cima consome oito vezes isso (3,3% do PIB)?
crossi@uol.com.br
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