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sexta-feira, 4 de junho de 2010
04 de junho de 2010 | N° 16356
DAVID COIMBRA
A terra da liberdade
Na primeira metade do século 19, um grupo de americanos decidiu montar uma associação para ajudar os ex-escravos dos Estados Unidos. Acreditavam, esses senhores brancos de leite, que os negros libertos deveriam ser mandados de volta à pátria de seus pais, a África, onde viveriam entre irmãos, longe da discriminação americana. Reuniram dinheiro, embarcaram em um navio, vazaram o Atlântico e tentaram comprar terra à beira-mar.
O rei local não compartilhava das generosas intenções dos americanos e não quis lhes ceder terra nenhuma. Os bons brancos, então, encostaram-lhe o cano de uma pistola na cabeça.
Com o que, o rei viu-se tomado de súbito espírito de caridade e lhes vendeu um naco da margem ocidental africana em troca de três mosquetes e uma caixa de contas de vidro. Parece pouco, mas os mosquetes funcionavam e o vidro era bem colorido.
Feito o negócio, os americanos passaram a lotar navios com alforriados e filhos de escravos a fim de enviá-los para o novo país, que recebeu o apropriado nome de Libéria, ou “terra da liberdade”. Os homens da associação julgavam que os libertos, ao chegar à mãe África, retomariam o estilo de vida de seus antepassados, e que os nativos os receberiam em júbilo:
– Eles voltaram! Eles voltaram!
Nada disso aconteceu. Os líbero-americanos, como se autodenominaram, reproduziram no novo país a sociedade que os oprimia. Só que, agora, os opressores eram eles. Chamaram sua moeda de dólar e sua capital de Monróvia em homenagem ao presidente Monroe, dos EUA. As casas de Monróvia eram réplicas das dos seus antigos senhores do Sul americano. E, apesar do calor africano, vestiam-se com fraque e cartola, e as mulheres com vestidos farfalhantes armados por corpinhos.
Assim enfarpelados, os líbero-americanos se diferenciavam dos nativos, que eles consideravam selvagens. Para assegurar a distância, confinaram os membros das tribos nativas a determinados territórios.
Ou seja: foram os precursores do apartheid. Vez em quando, eles faziam incursões militares ao interior para... caçar escravos! Isso mesmo: os antigos escravos e filhos de escravos, levados à terra da liberdade, instituíram a escravidão.
Muito tenho lido sobre essa estranha Libéria, sobretudo agora, às vésperas de embarcar para a Copa da África. Demonstra, o caso dos liberianos, uma verdade antiga: que o ser humano, salvo exceções especialíssimas, não consegue se libertar da sua própria história. Que as pessoas fazem aos outros aquilo que lhes foi feito. Que um homem só dá aos outros homens o que um dia lhe foi dado.
Quando penso nessa verdade, lembro da eleição que se avizinha.
Espero que o brasileiro, quando for escolher seu candidato, compreenda que os adultos já estão perdidos no passado. E que um país só se torna uma nação de verdade, justa e forte, quando cuida de suas crianças. As crianças, mais do que qualquer índice econômico, é que dão a medida da grandeza de um país.
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