Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 5 de junho de 2010
05 de junho de 2010 | N° 16357
CLÁUDIA LAITANO
Veneno eleitoral
“Minha posição é mais ou menos assim: politicamente eu sou proletário, economicamente eu sou burguês, mas esteticamente eu sou aristocrático.” A frase é do compositor Carlos Lyra, um dos pais da bossa nova – além de ateu e comunista confesso.
Carlos Lyra não é nem nunca foi candidato a nada, sequer a grande vendedor de discos, o que talvez explique a naturalidade com que abre o jogo sobre suas convicções, estejam ou não alinhadas com o gosto da maioria.
Em um Brasil ideal, não apenas democrático e financeiramente estável, mas alfabetizado, bem formado e informado, os candidatos a presidente e governador do Estado se apresentariam assim, colocando todas as cartas na mesa – e não apenas os curingas.
Há um embolamento de propostas muito parecidas sobre os assuntos considerados estratégicos e sérios, como a política econômica, por exemplo, e diferentes estratégias para desviar-se com elegância dos temas que podem provocar algum tipo de saia justa. E, em caso de dúvida, dê-lhe plebiscito. (Não existe tática mais óbvia para parecer democrático sem se comprometer muito: “Sobre esse assunto, hummm... Vamos fazer um plebiscito!”. )
O que eu gostaria era que estivéssemos escolhendo o novo presidente entre vários candidatos modelo Carlos Lyra – límpidos, diretos e autorizados a expressar não apenas sua opinião sobre determinados assuntos cabeludos, mas o horizonte mental a partir do qual observam o mundo. Porque nossas opiniões no varejo nada mais são do que a expressão do que somos no atacado, guiados por uma determinada pauta de valores – da qual somos mais ou menos conscientes.
O sujeito que se define como “esteticamente aristocrático” estaria autorizado a admitir, por exemplo, que não gosta de pagode nem de sertanejo universitário, sem medo de soar arrogante – facilitando o trabalho de quem quer saber até que ponto se identifica com ele.
Nas últimas semanas, Marina Silva tem revelado em entrevistas a sua plataforma de valores no que se refere a questões como aborto e casamento gay. É contra, porque ambos contrariam suas convicções religiosas. Cabe aos simpatizantes da candidata pesar que importância dão a esses temas na hora de decidir se votam ou não nela. Marina perde ou ganha votos com isso? Votos, eu não sei, mas certamente ganha em coerência.
Para quem jamais votaria em um político que se manifesta contra o aborto por questões religiosas, como é o meu caso, resta o desconforto de perceber que os outros dois candidatos presidenciais com mais chances de serem eleitos são parecidos nesse item também: escapam pela tangente. Evitam defender a legalização do aborto pessoalmente, ao mesmo tempo em que abrem espaço para uma discussão sobre o assunto no futuro. Ou seja, não se comprometem nem com um lado nem com o outro.
A política está mudando – a passos de formiguinha, mas está. Muitos eleitores não estão preocupados apenas com os grandes temas “convencionais” – economia, políticas sociais, relações exteriores –, mas querem a expressão na esfera pública das transformações que já acontecem na vida privada, principalmente no campo dos costumes.
Temas como a descriminalização do aborto e a aprovação da união civil de casais homossexuais são brigas que nenhum candidato quer comprar porque o eleitorado brasileiro ainda é, em sua maioria, conservador.
Mas a história marcha – e, mais cedo ou mais tarde, o Brasil vai marchar também. E os políticos, como sempre, virão depois.
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