sexta-feira, 4 de junho de 2010


FERNANDO DE BARROS E SILVA

Imposturômetro

SÃO PAULO - Seria o caso de pensar no Imposturômetro. Sim, um medidor da impostura. Muito útil para o período eleitoral. A primeira vítima do Imposturômetro poderia ser José Serra. Anteontem, ele visitava o Impostômetro -o famoso termômetro dos impostos que a Associação Comercial de São Paulo mantém no centro da cidade.

Ali, ao lado de Orestes Quércia, apresentado por Afif Domingos ao painel luminoso que traduzia o "apetite voraz" do Estado, Serra parecia um personagem deslocado. Um pouco, talvez, como Woody Allen, que tantas vezes surge como intruso em seus próprios filmes.

A bandeira anti-impostos pode ser atraente para setores conservadores da classe média, mas não comove o tucano. Basta lembrar que ele brigou com seu próprio partido para preservar a CPMF.

Serra dá às vezes a impressão de estar fazendo uma pré-campanha mais direitosa do que desejaria. Outras vezes, como na declaração a respeito da autonomia do BC, parece fazer questão de se pôr à esquerda do lulo-petismo.

Convicção, escorregões e conveniências -tudo se mistura numa espécie de coquetel, em que o candidato ainda parece experimentar os ingredientes para encontrar o seu próprio sabor.

Não é mesmo fácil o mix entre a concessão ao licor liberal do "afifismo" e a admiração sincera que ele tem pela Sudene de Celso Furtado. Uma coisa é certa: equilibrando-se à direita ou à esquerda, Serra está mais azedo e apimentado. Mais "ele mesmo", talvez.

O tucano entrou na campanha com ares de estadista. Sua altivez miniaturizava a adversária neófita. Agora acusou Dilma de estar por trás de um dossiê que ninguém viu. Passo em falso?

A subida rápida e consistente da petista o obrigou a mudar. Deve agir "como candidato", precipitando o confronto que antes interessava adiar. Serra precisa arrancar Dilma da sombra protetora de Lula. Fica mais exposto ao Imposturômetro.

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