sábado, 5 de junho de 2010



05 de junho de 2010 | N° 16357
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Carijo

A erva-mate brota natural nas terras do município de Palmeira das Missões, que teve muitos desdobramentos: vários municípios foram criados no antigo e vasto território, o que faz da antiga “Vilinha” uma mãe generosa de muitas cidades. A economia mais tradicional ainda é a erva-mate, conforme a velha tradição indígena e missioneira.

O beneficio da erva até estar pronta para a ceva do chimarrão tem as seguintes fases: corte, sapeco, secagem, cancheio, soque e acondicionamento. Todas essas operações podem ser feitas individualmente, menos a secagem, que é feita no carijo e é uma operação coletiva, espécie de ritual festivo que pode durar até três dias.

Enquanto o carijo faz a secagem da erva, o fogo arde ininterruptamente sem diminuir ou aumentar a intensidade, o que se controla com o aporte de mais lenha ou com guampas de água atirada aqui e ali.

Muita gente se reúne em volta do carijo durante a sua demorada duração, contando causos e namorando. Alias, é da Palmeira a expressão para significar namoro à beira do fogo: estar de carijo aceso. O carijo é uma espécie de jirau de varas toscas, horizontal ou em forma de cumeeira rasa, com um pouco menos de dois metros de altura.

Em cima do carijo se colocam os feixes de erva-mate no sapeco para a secagem final ao calor direto do braseiro. O controle do fogo, que tem que se manter com intensidade variável, torna obrigatória a ronda permanente do carijo, o que gera um ambiente festivo.

Pois agora, de 27 a 30 de maio, toda a Palmeira das Missões esteve “de carijo aceso”. Não sem motivo: era o esperado jubileu de prata do grande festival da canção nativista.

E eu ajudei a sonhar o Carijo. Nos intervalos das atividades de um congresso tradicionalista realizado na cidade, o dinâmico prefeito de então, Lourenço Ardenghi Filho, reunia, em sua residência, amigos, como o grande palmeirense Mozart Pereira Soares. Ali surgiu a ideia de se realizar na cidade um festival nativista. O Mozart deu o nome – Carijo!

E lá já vão 25 anos desse festival que revelou tantos artistas e tantas canções. A edição deste ano foi um sucesso – como as anteriores. Fiquei maravilhado com a presença de tantos intérpretes de qualidade excepcional e músicos de elevado padrão. E o prefeito de agora era o mesmo da primeira edição, o verdadeiro criador do Carijo, Lourenço Ardenghi Filho.

Os espetáculos de intervalo foram estrelados por Nenito Sarturi e Grupo Manacial, por Antônio Gringo, por João de Almeida Neto, pelo Grupo Buenas e M’espalho, pelo Grupo Parceria, pelo Rui Biriva e pela dupla César Oliveira e Rogério Melo. Parabéns Antonio Leo Rodrigues, o grande dínamo do Carijo. Gracias por todas as homenagens que recebi – não as mereço, mas gostei muito.

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