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quinta-feira, 3 de junho de 2010
03 de junho de 2010 | N° 16355
RICARDO SILVESTRIN
Em nosso nome
O filme Em Teu Nome coloca na tela uma reflexão sobre o passado recente brasileiro. Mostra a loucura toda que foram a ditadura militar e o processo de redemocratização. Em outro dia, vi o general Newton Cruz na tevê.
O programa abordava a visão de hoje do que aconteceu lá de 1964 até a abertura em 1979. O próprio general considera que houve excessos também do governo, perseguindo, por exemplo, professores universitários. A revisão está na pauta.
O filme dirigido por Paulo Nascimento mostrou o lado quase adolescente dos jovens que estavam lutando contra o regime. O personagem principal é um gaúcho. O filme relata a sua trajetória. Através dela, vemos o Brasil e seus impasses dentro de um quadro internacional de disputa entre o socialismo e o capitalismo.
É proposta também uma revisão por parte dos que partiram para a luta armada. Na volta ao país, eles dizem, no filme, que com a democracia agora iriam lutar com as armas certas. Ou seja, com a militância política dentro das leis democráticas.
Eu nasci em 1963. Na minha infância, na minha família, nada se falava ou se sabia sobre isso tudo que o filme mostrou. Vivíamos nossos problemas; meu pai e seus trabalhos, minha mãe também se virando, eu e meus irmãos na escola. Hino nacional, desfiles, semana da pátria, “Este é um país que vai pra frente”, “Sesquicentenário da Independência”. Enquanto isso, em outra esfera, numa espécie de terceira dimensão, a luta entre o governo militar e os que o enfrentavam.
Em Teu Nome vai até a abertura, quando Boni, na verdade o gaúcho Bona, que também estava em carne e osso na plateia do cinema, retorna no aeroporto Salgado Filho para reencontrar sua cidade e seus familiares. Alguém pergunta para ele se tudo por que passou tinha valido a pena. Boni não responde, mas sorri. Nessa hora, todo mundo que está vendo o filme se emociona. O sentimento de brasileiro fala mais alto. É uma pergunta para todos nós.
Parece algo distante e de difícil compreensão que brasileiros tenham lutado contra brasileiros. Em 1979, eu já tinha 16 anos. Foi quando comecei a entender tudo o que havia acontecido. Lembro da frase contraditória do presidente, o general Figueiredo: “Eu prendo e arrebento quem for contra a abertura”.
De lá pra cá, conquistamos as eleições diretas, votamos em todos os cargos do executivo e do legislativo, temos liberdade para concordar ou para discordar. Socialistas e capitalistas hoje alimentam o debate e o enriquecem.
De dois em dois anos, cada brasileiro tem que parar e pensar se está de acordo ou não com os rumos que sua cidade, seu estado e seu país estão tomando. O filme Em Teu Nome é bom também por isso. Para lembrar o que um país perde sem democracia.
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