quinta-feira, 3 de junho de 2010



03 de junho de 2010 | N° 16355
L. F. VERISSIMO


Expectativas

Cada Copa do Mundo é diferente e – no Brasil – cada pré-Copa também. Mudam as manifestações de esperança ou dúvida que acompanham nossa seleção, de acordo com a expectativa do momento. E raramente a realidade corresponde à expectativa.

Depois do bicampeonato mundial de 58 e 62, fomos para a Copa de 66 convencidos da nossa invencibilidade. Afinal, tínhamos não apenas o melhor jogador em atividade no mundo, mas o melhor jogador em atividade no mundo com 25 anos. Mas quebraram o Pelé na Copa de 66 e o time desmoronou.

Em 70, a Seleção viajou para o México em meio a uma descrença difusa mas indisfarçável. A fase de preparação fora conturbada. Tinha havido o problema com o João Saldanha, dispensado como técnico por alegadas razões políticas e substituído pelo Zagallo.

O próprio Pelé não era mais uma unanimidade, e chegaram a dizer que ele não estava enxergando bem. Além da miopia do Pelé, nos faltava um centroavante, pois o Tostão claramente não tinha o físico para o papel, e nossa defesa era fraca. Não podia dar certo. Deu certíssimo.

Curiosamente, quatro anos depois ninguém estava muito animado com a Seleção. Não ajudou muito a declaração do Zagallo, feita em “off” mas entreouvida e transmitida, de que sua única esperança era cavar faltas perto da área dos adversários e confiar nos nossos cobradores. Os cobradores não nos salvaram.

Em 78, o ceticismo geral se concentrou no capitão Coutinho e no seu linguajar tecnocrático, mas aquela Copa já tinha dono antes de começar, a Argentina. Nada teria feito muita diferença para os brasileiros, nem outro técnico, nem o jovem Falcão no lugar do Chicão.

Nenhuma Seleção saiu do Brasil mais oba-obaizada do que a de 82. Era a Seleção da melhor geração de craques brasileiros desde a da Copa de 50. Júnior, Falcão, Cerezzo, Sócrates, Zico, Eder... Não podia perder e perdeu. Como a de 50, aquela geração também ficou sem sua apoteose. Teve outra oportunidade no México em 86, mas aí já era tarde.

Na Itália, em 90, nascia o que o Armando Nogueira batizou, com desgosto, de a Era Dunga. Quatro anos depois, nos Estados Unidos, o desacreditado Dunga liderou uma vitória brasileira que ninguém esperava, desagravando a sua biografia, mas nem assim convencendo todo o mundo.

Na Copa de 98, a realidade derrotou a expectativa de que 94 se repetiria, mas foi uma realidade tão estranha – convulsões misteriosas do Ronaldo e inéditos gols de cabeça do Zidane no último jogo –, que resiste a qualquer tese, e não conta.

Ronaldo era a grande incógnita da Seleção de 2002, e a vitória da seleção no Japão foi uma vitória pessoal do jogador, numa bela história de remissão que soaria inverossímil como literatura.

Finalmente, as grandes esperanças com a Seleção de 2006 se justificavam. O período de preparação tinha sido empolgante. Quem poderia prever que o futebol de Ronaldinho, Kaká e os outros desapareceria como flocos de neve no verão alemão?

E vamos para a África do Sul cheios de... O que, exatamente? Entusiasmo, digamos, reticente, ou desesperança resignada? Certeza só a do Dunga, que ou volta definitivamente acreditado, ou desacreditado para todo e sempre.

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