domingo, 3 de janeiro de 2010


CARLOS HEITOR CONY

Do próspero

RIO DE JANEIRO - E assim é que estamos, como afirmam os manifestos comerciais, no limiar de um ano novo.

Não sei qual foi o cretino que por primeiro uniu o adjetivo "próspero" ao conceito de ano novo. De qualquer forma, outros cretinos adotaram a expressão e, quando um cidadão chega à idade respeitável dos 50 anos, se ainda não é realmente próspero, não é por culpa dos outros: desejos e votos foram formulados ao longo desses trinta e tantos anos.

E, se a prosperidade ainda não veio, não é o caso de se desesperar. O ano novo está aí, dando sopa. E desta vez vamos.

Mas enquanto a prosperidade não vem, daremos duro em nosso triste cotidiano. As perspectivas para esse 2010, aqui no plano pessoal, são bastante sombrias. O vizinho deu ao filho uma bateria, um assassino precoce que não dorme, não come, não estuda, não diz palavrão, só toca bateria o dia inteiro.

E o pior é que gosta de imitar grupos de rock. O guri não entende nada de música, mas o efeito é o mesmo.

Bom, não vou estourar os miolos por causa disso. Há que ladrilhar o espírito de paciência, torcer os lábios em feitio de sorriso e enfrentar a luta espartanamente. Mesmo que seja inútil para mudar o curso de tantos e tão graves acontecimentos.

Abstraindo o caso pessoal, as perspectivas são ainda pressagas. O planeta parece que entrou em coma -não será para os meus dias, mas a coisa está preta.

Dizem que a culpa disso tudo é do imperialismo, que tanto nos subjuga e maltrata, mas não compreendo muito dessas coisas. Apesar disso, o ano tem tudo para ser próspero. Faço votos para que seja.

Que os ricos fiquem mais ricos: não entrarão no reino dos céus, o que é um consolo besta, mas é um consolo. Que os pobres fiquem ricos. Verão como é chato ajudar os pobres.

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