sexta-feira, 15 de janeiro de 2010



15 de janeiro de 2010 | N° 16216
PAULO SANT’ANA


Sou contra

Como, pelos e-mails que recebo, restaram muitas dúvidas sobre a minha posição com relação ao cigarro, vou hoje fazer nesta coluna uma declaração de princípios.

Quero declarar, aliás como sempre declarei, que sou contra que se fume em ambientes fechados. Está errado.

E também sou contra que se fume em ambientes abertos, ao ar livre.

Sou contra que o treinador Fossati fume junto do túnel nos intervalos dos treinos.

Sou contra e não tolero também que o treinador Fossati, do Internacional, fume no campo de treinamento de Bento Gonçalves, na Serra, no ar livre da Serra. Não é certo fumar lá, nem no Itaimbezinho.

Sou contra que se fume nos cânions, lá sempre pode haver um alpinista que se torne fumante passivo.

Por sinal, dizem-me que hoje está saindo em Zero Hora uma fotografia em que o treinador do Internacional está tomando chimarrão no intervalo de um treino.

Sou contra. Não pode tomar chimarrão ao ar livre: é um despropósito.

Por sinal, quero dizer que sou contra qualquer prazer... dos outros.

Assim é que sou contra o cigarro, sou contra a cigarrilha, sou contra o charuto e sou contra o cachimbo.

Sou contra a inalação de qualquer tipo de fumaça em ambiente fechado e ao ar livre. Sou contra até as inalações de fumaça dos índios em seus rituais.

Sou contra também o cachimbo da paz.

Sou principalmente contra fumar ao ar livre. Onde já se viu fumar ao ar livre, expondo aos riscos de saúde os fumantes passivos?

Sou contra os fumantes ativos e a favor dos fumantes passivos.

Sou contra que se fume nas piscinas e nas praias, sou a favor dos frequentadores passivos das piscinas e dos banhistas passivos das praias.

Aproveito esta declaração de princípios para dizer que sou contra o cafezinho e o chope, agentes instigadores do cigarro. Quanto menos ou nada se consumir de cafezinho e chope, menos ou nada de cigarro se consumirá, os fumantes passivos e os não fumantes devem cerrar fileiras, como eu só agora o faço, contra o cafezinho e o chope.

Daqui a pouco, vou declarar que sou contra a transa, contra o amor. Não há nada mais delicioso do que fumar logo em seguida à cópula. Serei contra a cópula em breve, por estimular o cigarro. Nada que instigue o cigarro ou o charuto, como o beijo, o amasso ou a janta, deverão ser permitidos, sob pena de serem prazeres autorizativos da franquia do tabagismo.

Particularmente, sou contra o treinador Jorge Fossati, do Internacional, vir afrontar-nos aqui fumando ou bebendo chimarrão nos treinos.

Que volte para Montevidéu ou Quito e vá lá fumar e beber chimarrão. Só o que faltava era aparecer um treinador que demonstrasse ter prazer em treinar o Internacional e demonstrasse esse prazer cultivando os hábitos espúrios e imundos do cigarro e do chimarrão.

Treinador do Internacional, pelo que se conhece, não pode ter prazer de treinar o Internacional, tem de ser como o Abel Braga e o Muricy Ramalho o eram: permanentemente mal-humorados e agressivos com a imprensa.

E veio agora aparecer para dirigir o Inter um treinador bem-humorado, fumante e bebedor de chimarrão. Fora daqui com esse viciado!

Bem, então ficou claro: sou contra o cigarro e sou contra os fumantes.

Sou contra, mas infelizmente sou fumante.

Eu, afinal, sou contra mim.

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