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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Jaime Cimenti
O livro do mundo e o mundo dos livros
O professor, escritor, poeta e tradutor carioca Marco Lucchesi há muito já faz parte do primeiro time dos intelectuais brasileiros. Autor de vários livros de poemas, ensaios e tradutor em quinze línguas, inclusive de romances de Umberto Eco, Lucchesi incursiona com desenvoltura pelos variados campos do saber, como literatura, música, poesia e até mesmo a matemática.
Ele não separa os livros do mundo e os mundo dos livros e, na recém- lançada coletânea de ensaios Ficções de um gabinete ocidental - Ensaios de história e literatura, obra vencedora do Prêmio ARS Latina de Ensaio 2009, tais fatos ficam mais uma vez comprovados.
O autor muitas vezes premiado, inclusive com dois Prêmios Jabuti, nesta obra mais recente trata de modernidade e futuro, Oriente, Ocidente, Machado de Assis, Jorge de Lima, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, poesia, matemática e teologia, entre outros temas.
Além de ser um livro altamente erudito, Ficções de um gabinete ocidental apresenta uma coletânea de histórias magníficas, uma meditação sobre a pertinência de conceitos, uma confidência sobre sua forma de ver o mundo.
Acima de outras qualidades dos textos, paira a sensibilidade de Lucchesi para com o próximo, o outro, e o estabelecimento de um forte compromisso de uma política de emancipação dos indivíduos contra a servidão e contra o utilitarismo. Lucchesi pensa a história e suas relações com a literatura sob o signo da tolerância, da ética e do desejo. Não é pouco.
Diz o autor: “ a biblioteca que me habita é fruto de negociado armistício. Guardo relação direta com os livros. Gosto das palavras em fluxo migratório. Sou uma espécie de leitor que não separa o livro do mundo e o mundo dos livros, a parte de fora e a parte de dentro.
Os dois lados me interessam, se tivesse de apostar na dualidade, na qual decididamente não acredito. Defendo a relação íntima do livro do mundo – praças e jardins – com o mundo dos livros – o diálogo dos mortos, desde a vitória absoluta do Pantempo.
O livro e o mundo são como os transfinitos. Não sabem e não podem limitar sua capacidade de expansão. Vivo entre estas duas vertentes. Bebo haustos de silêncio.
E golfadas de rumores.” Enfim, nesta obra, que deita raízes na tradição cultural europeia, abrindo caminhos para mundos orientais, europeus e americanos, Lucchesi nos oferece um personalíssimo e atento olhar sobre temas de interesse de sempre. 286 páginas, Civilização Brasileira, telefone (21) 2585-2000.
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