sábado, 9 de janeiro de 2010



09 de janeiro de 2010 | N° 16210
CELSO GUTFREIND


O atraso de Copenhague

Pode parecer atraso de um mês para a Conferência do Clima em Copenhague, mas juro que não fui eu. Ela é que se atrasou em muitos anos. Nunca é cedo para abordar temas de morte, vida, sobrevida. E ainda tem gente dizendo que o aquecimento global é obra de ficção. Ou conspiração. São exceção e, embora tenham triunfado até o momento, essas ideias soam tão grotescas como os sons que emitem.

A maioria da comunidade científica concorda em que a situação está caótica. Emitimos gases nocivos ao ambiente, a temperatura da Terra está aumentando, o gelo dos polos derretendo, e rápido. O planeta está em perigo, e uma linguagem mais melódica sugere ações: reciclar o lixo, reduzir a produção de gás carbônico, encontrar rotas alternativas de energia.

Quero propor outra ação para se agregar às econômicas e ambientais. Ela nasce da ideia de que somos do bem e do mal. Nascemos com um potencial de maldade e somos inundados de impulsos destrutivos desde o começo da vida.

Eles precisam ser acolhidos para ficar, pelo menos, mais ou menos. Isto costuma ser feito com desejo de mãe e pai e respeito à individualidade de seus bebês a fim de não invadi-los com seus próprios males. Não se sabe ainda como alcançar tal façanha, mas ter encontrado alguém para contar a sua história bem que ajuda.

Depois, é inventar outros enredos, oferecendo o corpo e a mente para que os bebês digiram o seu mal, que, como disse o poeta, não é bem o de toda a gente. Narrativas cheias de mal também ajudam, especialmente se os símbolos forem competentes como um lobo, um ogro, uma bruxa. O mal representado não destrói. Também por isso cantar é bom. A melodia distrai os demônios, embala os fantasmas, e essa turma, embalada, já não assusta nem tira tapete de amigo, namorada ou mundo.

Saint-Exupéry abordou o tema em O Pequeno Príncipe, a história de um guri às voltas com gente onipotente, que se achava dona dos planetas. Um só acumulava estrelas, outro era beberrão, outro era burocrata. O guri tentou domar a maldade através de bons encontros com um aviador, uma raposa, uma história.

Sugiro, portanto, que conferências do clima continuem dando orientações a todos nós, já atingidos pelo tempo. Mas priorizem o seu lugar com os casais grávidos e os recém-nascidos.

Atenção, desejo, narração e arte para eles. Dará algum trabalho e talvez nem dê tempo. No entanto, pode evitar que voltem a Copenhague adultos atrasados, que sequer fizeram a lição de banir o mal em torno de quando eram bebês.


Cláudia Laitano encontra-se em férias até o dia 23 de janeiro

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