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terça-feira, 12 de janeiro de 2010
12 de janeiro de 2010 | N° 16213
PAULO SANT’ANA
Violência solta
Impressionante como se rouba neste país. Não estou falando da corrupção da política, mas dos roubos triviais, os assaltos, os atraques, a forma como as pessoas buscam ganhar dinheiro usando da violência contra os outros.
Há alguns anos, escrevi aqui que todos nós seríamos assaltados e pedi que as pessoas se preparassem para esse evento.
Meses depois, sucessivas vezes, recebi correspondências de pessoas que diziam ter sido de fato assaltadas: “Sant’Ana, tu tinhas razão. Chegou realmente a minha vez. Foi assim e tal...”.
Rouba-se por toda parte. Para minha surpresa, o Fantástico de domingo passado mostrou uma reportagem sobre os “novos cangaceiros”, assaltantes que atacam cidades inteiras no Ceará e em outros Estados nordestinos.
Não é brincadeira, esses novos cangaceiros andam armados de metralhadoras, algumas antiaéreas. E descarregam suas munições contra bancos, casas comerciais, repartições públicas e sobre o público que muitas vezes se aglomera ou foge de seus assaltos.
Agem da maneira que Lampião agia, atacando pequenas comunidades e roubando tudo o que elas lhes podem dar de butim.
É de tal ordem a roubalheira e a violência que se instala nas ruas, que nós podemos classificar hoje os brasileiros como dois únicos tipos de pessoas: vítimas e ladrões.
Não passa dia sem que o noticiário registre que morreram várias pessoas vítimas de assaltos.
Na maioria dos assaltos, é claro, as vítimas não morrem. Mas, em muitos assaltos, com aterradora frequência, as vítimas acabam morrendo, sob as balas dos assaltantes.
O Estatuto do Desarmamento produziu a ilusão e a esperança de que as mortes violentas iriam diminuir. Depois de sua vigência, pelo contrário, as mortes violentas aumentaram.
Proliferam cada vez mais os assaltantes e todos possuem armas. E matam desnecessariamente. Quando digo matar sem necessidade, quero dizer que matam quando não seria preciso matar. Os assaltos muitas vezes já se consumaram, no entanto os ladrões não se afastam antes de matar suas vítimas. Ou seja, mesmo que não as matem, seus assaltos serão bem-sucedidos.
Em Pinheiros, bairro de São Paulo, os assaltos acontecem nas sinaleiras, nas ruas, no trânsito.
A especialidade mais recente é um de cada dois assaltantes portar um rodinho para limpar o para-brisa do carro. Enquanto um distrai o motorista, limpando o vidro, o outro aparece não se sabe vindo de onde para, com revólver ou faca, render o motorista e levar seus pertences e dinheiro.
Não existe pior sensação do que a de quem está dentro de um carro e aparece um homem querendo limpar o para-brisa. Não interessa se o motorista quer que limpe o para-brisa.
O homem começa a limpar, isso acontece com todos nós, então já sabemos que temos de arranjar algum dinheiro, um pouco se tivermos sorte, muito se for o caso dos motoristas de Pinheiros, que são saqueados. E, se a moda pegar nessa modalidade mais séria de roubo... estaremos fritos.
Renovo meu alerta: todos seremos ou já fomos assaltados. Que o sejamos, mas não se diga surpreendido quando o for, é uma mera questão de estatística.
Ladrão virou uma profissão, sem carteira assinada.
E vítima, uma vocação.
Todos somos vítimas em potencial. Depende só da sorte.
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