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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
20 de janeiro de 2010 | N° 16221
PAULO SANT’ANA
Ultrapassou o limite
O que não pode acontecer, o que definitivamente não pode acontecer, é as pessoas lotarem as emergências dos hospitais de Porto Alegre em pleno janeiro, serem fechadas ao arbítrio dos hospitais as emergências – e a emergência que não fecha nunca, a do Hospital Conceição, restar estrangulada, sem poder dar conta da demanda dramática de pacientes por atendimento.
Não pode acontecer, as autoridades têm de depressa dotar o atendimento público e gratuito de uma solução definitiva para esse problema, o mais grave, vital para o equilíbrio social entre nós.
O médico Márcio César Rocha, presidente da Associação dos Médicos do Hospital Conceição e Criança Conceição, adverte: “Em Porto Alegre, não há mais espaço físico hospitalar para a população ser atendida com dignidade pelo SUS”.
Como deixamos chegar a este ponto, autoridades?
Que colapso de civilização é este, autoridades? Onde é que estamos? Onde é que foram parar os hospitais e os leitos? Como é que se chegou a este estado de incúria, em que os valores dos direitos humanos foram totalmente pisoteados?
Prossegue o Dr. Rocha: “E o dilema maior para nós, médicos, não é o espaço físico abarrotado, a agressão eventual de familiares dos doentes emocionalmente descontrolados, o cansaço das jornadas exaustivas. O dilema maior é ter que, de qualquer maneira, atender, medicar, deixar em pé, sentar (às vezes, até conseguir deitar) um ser humano gravemente enfermo.
E essa imposição não é patronal, não é judicial. É a voz maior que vem de dentro de também seres humanos que optaram em ser médicos. É-nos impossível deixar de auxiliar nossos iguais e saber que poderão morrer na calçada”.
A situação na emergência do Hospital Conceição é de deixar morrer na calçada, não há mais lugar para os doentes lá dentro?
Não há drama maior no nosso tecido social do que doentes não sendo atendidos nas emergências. Isso é o fim de tudo, isso é o princípio do caos civilizatório.
E os hospitais são só fechados, não se constroem novos hospitais, enquanto a população aumenta geometricamente e não são destinados leitos hospitalares para ela.
O governo federal é o principal responsável por este caos. Destina verbas que, apesar de volumosas, são insuficientes para atender a demanda.
Subsidiariamente está a responsabilidade do governo estadual e da prefeitura da Capital.
Em 17 anos, diminuíram incrivelmente os leitos do SUS, enquanto cresce a população.
Como é que o presidente Lula não atenta para isso, nem ele nem seu Ministério da Saúde?
Onde é que vamos parar? O alarma está soado, isto aqui em Porto Alegre está igual ao Haiti, presidente Lula!
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