Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 16 de janeiro de 2010
17 de janeiro de 2010 | N° 16218
DAVID COIMBRA
O culpado de tudo
OFossati, os problemas dele começaram com sir Walter Raleigh há 450 anos. Esse fidalgo inglês, Raleigh, era um homem requintado, navegador de espírito aventuresco, fazedor de etéreos sonetos, amante de belas mulheres.
Caiu nas graças da mais importante delas, a Rainha Elizabeth, chamada de “Rainha Virgem”, que lhe cedeu navios e sonante para que vogasse pelos mares em busca de ouro, terras e glória para a coroa.
Elizabeth prezava muito isso da virgindade. Apregoava-a sempre que podia. Alguns historiadores sérios até se deixaram embair por esse mito. Mas, cá entre nós, a rainha era tão virgem quanto a Bruna Surfistinha. Envolveu-se com vários nobres bem apessoados ao longo da vida e com alguns chegou a trocar carícias públicas, um escândalo para o século 16. O último nobre namorado, o conde de Essex, era 30 e tantos anos mais jovem do que ela.
Quer dizer: é evidente que Elizabeth cedeu ao chamamento da carne. Há quem diga, no entanto, que ela sofria de hímen complacente, uma pequena deformação de nascença que mantém intacta esta tão polêmica membrana feminina, mesmo depois da penetração. De várias penetrações. De todas as penetrações, até.
Então, tecnicamente falando, a rainha virgem era, de fato, virgem. Por isso, por essa virgindade toda, foi dado o nome de Virgínia a um dos estados americanos colonizados pelos ingleses. E quem teve a ideia de fazer tal homenagem à rainha foi ninguém menos do que o nosso herói, o homem que originou os problemas do técnico do Inter: Walter Raleigh.
Antes da Virginia, Raleigh fundou a primeira colônia britânica na América, na Carolina do Norte. Deixou lá mais de cem homens, mulheres e crianças e embarcou para a Inglaterra com a promessa de voltar o quanto antes com mantimentos para os colonos. Só que a rainha não permitiu que ele retornasse. A célebre Invencível Armada espanhola rondava os portos ingleses, e Elizabeth queria todos os seus navios por perto para defender o país.
Os navios de ajuda aos colonos só partiram depois de quatro anos. Chegando à Carolina do Norte, depararam com um mistério: não encontraram mais ninguém. Os europeus tinham sumido como se estivessem na Ilha de Lost. Havia uma única pista dos desaparecidos: no tronco de uma árvore, alguém inscreveu a enigmática palavra CROATOAN.
E agora???
Entre uma expedição e outra, Raleigh envolveu-se com uma jovem da nobreza, engravidou-a e casou-se com ela clandestinamente. Quando Elizabeth descobriu, foi tomada de fúria real.
Por dois motivos: porque seu comandante havia se casado sem a sua permissão e porque o assunto de virgindades era delicado para ela, a rainha não gostava que os hímens das suas damas fossem rompidos sem as bênçãos do matrimônio. Raleigh é que se deu mal com essa. Foi arrastado para a temível Torre de Londres, donde passou a ver as águas turvas do Tâmisa detrás das grades. Não foi o primeiro homem arruinado por um hímen.
Mas Raleigh sempre tinha uma carta na manga. No caso, carta mesmo.
Enviou uma a Elizabeth suspirando que a vida era-lhe insuportável por não poder mais contemplar a rainha “cavalgando como Alexandre, caçando como Diana, caminhando com o andar de Vênus, enquanto seus louros cabelos, agitados pela brisa, lhe acariciam as faces puras, por vezes sentada à sombra como uma deusa, outras cantando como um anjo, outras ainda dedilhando as cordas como Orfeu”.
Elizabeth estava com 60 anos de idade, quando Raleigh lhe untou com todos esses elogios. Que funcionaram. Amolentaram o coração da rainha.
Ela devolveu a liberdade ao cavalheiro e permitiu que ele seguisse para novas aventuras no além-mar. Raleigh partiu com seus navios para América e de lá voltou com inúmeras novidades, entre elas a saborosa batata, que eu aqui prefiro assada na manteiga, e... o tabaco.
Há quem diga que Raleigh não foi o primeiro inglês fumante, que houve outro antes, mas o certo é que ele, por ser homem influente, causou profunda impressão com seu novo hábito.
E algum estranhamento: certo dia, o comandante pitava o seu cachimbo e um de seus criados, vendo a fumaça, atirou-lhe um balde d’água. Não se tratava de um antitabagista radical: o homem apenas achava que o patrão estivesse pegando fogo.
O certo é que Raleigh popularizou o tabaco na Velha Álbion. Em pouco tempo, milhares de súditos da rainha o imitaram, depois milhões, hoje bilhões pelo planeta inteiro. Um dos quais, Jorge Fossati, o técnico do Inter que foi criticado por fumar em público durante um treino.
Pobre Fossati, acossado por hábitos que, afinal de contas, são velhos de séculos. Talvez fosse mais feliz em outros tempos mais tolerantes. A não ser, é claro, que algum gaiato lhe atirasse um balde d’água.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário