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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
21 de janeiro de 2010 | N° 16222
LETICIA WIERZCHOWSKI
Do arrependimento
Nesta semana há de ser decidido o futuro do bebê que foi abandonado há cerca de 10 dias na cidade de Portão. Para aqueles que não conhecem a história, um rápido resumo dos fatos: uma dona de casa de 27 anos largou seu bebê com cerca de sete dias de vida num terreno baldio próximo a uma escola.
Uma hora depois, a mãe ligou em desespero para os bombeiros e para a polícia dizendo que precisava dar de mamar à criança.
Os bombeiros não encontraram nada no local indicado. A mãe, inquieta, ligou uma segunda vez para saber se a criança havia sido localizada: lá se foram os bombeiros novamente, e dessa vez acharam o menininho no meio do mato, quietinho, absolutamente limpo, vestido com roupas novas e enroladinho numa manta.
A criança, apelidada de Gabriel, foi levada ao hospital de Portão e, de lá, após os exames de rotina, seguiria para uma instituição de apoio a menores sob a guarda do Conselho Tutelar. A mãe em questão corre o risco de ser indiciada por abandono de incapaz, podendo ser condenada a três anos de detenção.
Essa história me condoeu. Não sei qual será o futuro dessa mãe e do seu menininho... Lendo sobre o caso, é fácil deduzir que a mulher sofre de depressão pós-parto (doença que atinge até 5% das puérperas), e que cometeu um gesto impensado e extremamente condenável, mas já pagou por ele. Deprimida ou não, não se passou uma hora até que a mulher sentisse falta do filho e temesse por ele.
Consertar a vida é possível somente em raras vezes - e essa me parece uma delas. Me pergunto se o futuro que essa criança vai encontrar num lar para menores não haverá também de conter a sua inevitável parcela de abandono, sofrimento e solidão... A punição de uma vida inteira de separação me parece cega e por demais cruel para com ambos.
Mães existem de todos os modos, infelizmente: mães que jogam seus filhos pela janela, que os prostituem, que batem, que humilham, que acorrentam. Por meses ou anos a fio, algumas mães violentam seus filhos sem remorsos ou piedade. Para essas mulheres, a prisão é pouco.
Essas crianças vilipendiadas merecem sim a segurança de um lar de menores e o sonho de uma nova família. Porém, torço para que a Justiça seja sensível, e que o pequeno Gabriel volte para os braços da sua mãe arrependida.
E torço para que essa mãe receba o acompanhamento médico necessário a fim superar seus problemas emocionais. Que ela encontre, finalmente, seu quinhão de paz ao lado do filho.
Uma ótima quinta-feira para você.
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