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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
13 de janeiro de 2010 | N° 16214
JOSÉ PEDRO GOULART
Um filme de...
Feira do Livro de Porto Alegre, depoimento de Guillermo Arriaga, roteirista de Babel, Amores Brutos, 21 Gramas. Ele professa sua fé nos livros, na arte; sustenta que um olhar atento, quando transcrito, tem o poder de mudar o mundo.
Diz um monte de obviedades sobre isso, mas diz com devoção. Arranca risos quando fala da própria calvície, segundo ele a careca foi feita pela “língua da morte” já que “a cada segundo estamos mais perto dela”.
Um rapaz na plateia resolve pôr freio numa certa autolouvação que o escritor vai fazendo e pergunta sobre o arranca-rabo que ele teve com Alejandro Iñárritu – diretor da maioria dos filmes que ele escreveu. O assunto não é novo. Há algum tempo – pela importância da parceria dos dois – a questão veio a público. Arriaga, muito simpático até então, se mostra contrariado com a pergunta. Afirma que aquela é uma questão pessoal e dá o assunto por encerrado.
Resolvo me meter. Digo a ele que aquele é um episódio sobre duas pessoas públicas e, se ele está ali falando de arte e suas consequências, nada mais justo que a plateia soubesse o caso. Ele cede. Conta que não quer mais participar de filmes que assinem “um filme de...”, no caso, “um filme de Alejandro Iñárritu”.
Afinal era ele quem escrevia as histórias – como então admitir que o filme fosse do outro? E ele ainda garantiu que lhe foi prometido um crédito dividido: “um filme de Iñárritu e Arriaga”, o que não foi cumprido.
Pergunto se aquilo (“um filme de...”) não é uma questão de marketing – e afinal não é esse o motivo de ele, apesar de ser mexicano, fazer filmes falados em inglês? Ele reage dizendo que filmava em Hollywood pelo mesmo motivo que os jogadores brasileiros iam para Europa: lá estariam os melhores profissionais. Assunto encerrado.
Tudo aquilo parecia um filme mal montado. De um lado, um sujeito com um impressionante currículo, falando da arte como um catequista, na sublimação, no enlevo que ela provoca; mas terminando uma luminosa parceria – parceria que afinal o tornou famoso no mundo – por uma razão chinfrim.
Além do mais, um filme “é de” muita gente. Do produtor, do cenógrafo, do maquiador, do assistente, do eletricista... A queixa de Arriaga entretanto é apenas sobre o crédito “dele”.
Isso, junto da declaração de que os melhores cineastas devem estar entre os melhores mesmo que com isso submetam seu trabalho às razões de mercado, me leva a concluir o seguinte:
“A única desculpa de Deus é o fato de não existir.” Numa paródia ruim (mas não por acaso) da piada ateísta genial do Stendhal, eu diria a Arriaga que a única desculpa desse artista que ele descreveu no início é que ele não existe.
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