terça-feira, 26 de janeiro de 2010



26 de janeiro de 2010 | N° 16227
PAULO SANT’ANA


Bombaram as pernas grossas

Não sei bem a que propósito escrevi a coluna de ontem, que está bombando em todos os blogs, que foi discutida ontem no rádio e na televisão. O assunto era o surto atual de mulheres de pernas grossas na televisão.

Mas eu sei, em verdade, qual era o meu propósito. Era o de encorajar as mulheres de pernas finas.

E consegui o meu objetivo: inúmeras mulheres de pernas finas me escreveram exultantes, declarando que se envergonhavam de suas pernas finas, mas que a coluna veio afinal a valorizá-las.

Algumas mandaram me dizer que suas pernas finas se traduziram em trauma para elas, sentiam-se inferiores vendo essa onda assustadora de mulheres de pernas grossas na televisão, parecendo que não havia mais no mundo lugar para elas.

Salvei-as, disseram todas. Elas acham agora que vão ter coragem de enfrentar a vida.

O objetivo da coluna, em suma, era filantrópico.

Mas não entenderam assim as mulheres de pernas grossas. Quase me encheram de desaforos, como esta aqui: “Tenho as pernas grossas, bem sei, mas meu marido gosta de minhas pernas, e você, colunista, não tinha nada de se meter”.

Eu não queria criar polêmica, acabei construindo um bafafá.

Eu queria escrever sobre senso estético, sobre harmonia corporal. Queria escrever também sobre os exageros da malhação, sobre os excessos da musculação nos corpos das mulheres, que as tornam menos femininas.

Longe de mim classificar as mulheres somente entre as de pernas finas e as de pernas grossas.

Evidentemente que a minha coluna continha também o meu gosto pessoal, não tenho o direito de tê-lo?

Mas acertei na veia com a coluna. Muitas leitoras concordaram comigo e disseram que há uma tendência estranha de engrossamento das pernas das mulheres. Quando se fala nisso, está se falando no que se vê na televisão, que é o que interessa: todo o Brasil, sobre quase todos os assuntos, se baseia em seus gostos pela televisão.

Houve também os que me escreveram dizendo que a nova tecnologia de imagem na televisão, inclusa nela a TV digital, engorda as pessoas e engrossa as pernas das mulheres.

Isso é verdade, mas no Big Brother as pernas são grossas mesmo, a equipe que tratou da escolha das participantes, nitidamente, baseou seu critério estético por mulheres possantes, de pernas grossas, praticantes da malhação.

Mas, se o conteúdo estético dominante pendeu para as pernas grossas, o que seria das mulheres de pernas finas?

Eu ainda tentei dizer que meu tipo era o de pernas esbeltas, esguias, o padrão clássico de beleza a que estávamos acostumados até surgir esta nova onda de mulheres estivadoras, que parecem erguer halteres ou sacos cheios de areia com as pernas para agradar aos homens.

Também timidamente alertei para o perigo e o contrassenso de as mulheres estarem programando seus corpos para somente elas se acharem bonitas, não lhes importando a opinião dos homens a respeito.

Quando, na verdade, se algum padrão deva ser buscado em matéria de estética corporal, por homens e por mulheres, deve ser o de agradar aos seres do sexo oposto.

Eu não desconhecia que há homens que preferem pernas femininas grossas, outros finas.

Mas, afinal – este foi o elemento fulcral da minha coluna –, o que é afinal o belo?

O senso de beleza é que me preocupava. E eu só achei que as pernas grossas, como as que deram para aparecer agora, estavam agredindo este senso.

Mas é só uma opinião. E muito pessoal.

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