Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
18 de janeiro de 2010 | N° 16219
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Escritores
O escritor, antigamente: uma ideia na cabeça, ele vai ao fabricante de papel, examina a textura da mercadoria, a porosidade, a cor, escolhe e, depois, negocia o preço.
Feita a compra, paga em sonantes moedas, bebe um copo de vinho com o fabricante, possivelmente seu amigo. No caminho de volta, passa pelo mercador de tintas de escrever, seu compadre, o qual recebeu, pelo navio chegado há duas semanas, dois galões de tinta turca, a melhor. Examina-os. Cheira-os. Compra-os.
Em casa, senta-se à mesa de trabalho feita pelo marceneiro, vizinho de porta, e põe-se a aparar algumas penas de ganso, penas dos seus gansos, que ele escuta grasnar lá embaixo. Logo o escritor constata que o canivete, feito por um seu conhecido, cuteleiro em Toledo, está sem fio.
Levanta-se, pega uma pedra de arenito que ele mesmo extraiu da pedreira e nela afia a lâmina. Volta a sentar-se. Apara as penas, desenrola os papéis, separa uma folha e alisa-a sobre o tampo da mesa, até que fique bem plana.
Então o escritor, com vagar, molha a caneta no tinteiro. Deixa escorrer o excesso pela borda. Observa a sinuosidade da gota escura, o que lhe sugere umas figuras estranhas para o seu livro, que tratará da loucura.
Assim, sentado na cadeira herdada do pai, o escritor procura o centro da página e ali, com uma letra floreada, escreve o título, e, com orgulho, o seu nome, dando início a uma aventura sem fim, que encantará os leitores dos séculos seguintes.
O escritor, hoje: vai às pressas ao supermercado que ele não sabe a quem pertence, compra folhas de papel feitas por uma anônima fábrica da China e paga com um impessoal cartão de crédito a uma moça que nunca viu antes; noutra loja, ele adquire, a prestações, um computador que lhe indicaram apenas por um número;
alguém desconhecido, depois, irá à sua casa montar a geringonça que escreve; quando ela de fato dá sinal de vida, o escritor aperta um “on” e com isso “abre” uma tela que ele sabe manejar, mas não sabe como funciona e bate em teclas que, por algum meio nebuloso, põem letras na tela; escreve a primeira frase e tem início o livro, que ele imprimirá numa máquina misteriosa que cospe folhas de papel.
E pela cabeça do escritor, com um frio na boca do estômago: serei eu mesmo, a escrever tudo isso?
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