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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
25 de janeiro de 2010 | N° 16226
KLEDIR RAMIL
Uruguai, um capítulo à parte
Outro dia escrevi que com apenas três meses de idade viajei a Jaguarão e não gostei do que vi: o Uruguai. Gostaria de esclarecer que, apesar dessa primeira impressão, sou um apaixonado pelo país hermano.
Meu pai é natural de Montevidéu. Minha avó materna nasceu lá pro lado das Coxilhas. Os Del Pino vieram todos de lá. Enfim, tenho laços afetivos e familiares com o Uruguai. Yo también soy un hermano.
O problema do meu primeiro contato com o Uruguai foi a circunstância inadequada. Não deviam ter feito aquilo com um guri em fase de amamentação. Os uruguaios eram então considerados inimigos, haviam derrotado o Brasil na Copa de 1950, em pleno Maracanã. A ferida ainda estava aberta.
Do lado de cá da fronteira, sempre que alguém lembrava a história de Jaguarão, a “Cidade Heroica”, levantava a voz e a ponta do nariz em direção ao Uruguai, contando com orgulho que em 1865 haviam “corrido os castelhanos a pelego”.
Apesar do ambiente carregado, atravessei a Ponte Internacional Barão de Mauá em estado de euforia, deslumbrado com a maior obra de engenharia que eu já havia visto. Temos que considerar que até então eu só conhecia a ponte do Laranjal e o trapiche do Valverde.
Ao chegar ao outro lado da fronteira, foi que veio minha decepção. Seria aquilo o Uruguai? Onde estava a potência que derrotou a Seleção Brasileira?
Rio Branco era então um vilarejo, uma rua de terra, com dois ou três estabelecimentos comerciais, entre eles um restaurante – se é que se pode chamar aquilo de restaurante. Entramos naquele lugar caindo aos pedaços e tive minha primeira visão do inferno, quando meu pai apontou o braseiro e gritou “lechón a las brasas”. Foi aí que comecei a considerar a possibilidade de me tornar vegetariano.
Pouco a pouco fui me recuperando do trauma inicial e aprendi a gostar do Uruguai. Começou com um pote de dulce de leche Conaprole, do qual virei dependente. Até hoje faço contrabando. Depois, veio a Norteña.
De litro. No gargalo. E vieram Los Iracundos, Los Shakers, Alfredo Zitarrosa, Eduardo Galeano, Daniel Viglietti, Ruben Rada, Leo Maslíah... Quando Jorge Drexler ganhou o Oscar de melhor canção eu já estava vestindo a camisa da Celeste, enrolado na bandeira, aos gritos de “Viva Uruguay!”.
É bem verdade que aquela loira de Punta Del Leste foi importante nesse processo todo, mas isso não vem ao caso agora.
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