quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


KENNETH MAXWELL

Terremoto

ÀS 9h40min , no dia 1º de novembro de 1755, Dia de Todos os Santos, um grande terremoto destruiu boa parte de Lisboa. O epicentro do terremoto foi ao largo da costa, e por volta das 11h uma imensa onda varreu Lisboa com força de maremoto.

Tsunamis são muito raros no oceano Atlântico, e a elevação súbita do mar inundou os alagadiços aluviais sobre os quais boa parte da cidade havia sido construída. Para aumentar o terror e a destruição daquela manhã fatídica, logo irromperam incêndios, que duraram uma semana até serem debelados. Lisboa era então um dos maiores e mais prósperos portos da Europa.

Ouro, diamantes e mercadorias coloniais fluíam do vasto império ultramarino português, especialmente do Brasil. Acredita-se que o terremoto tenha atingido intensidade entre 8,5 e 8,75 pontos na escala Richter. Das 20 mil moradias que existiam em Lisboa, apenas 3.000 se mantiveram habitáveis.

O palácio real, à beira-mar, foi destruído, assim como o novo teatro de ópera, as residências urbanas dos nobres e muitas igrejas e mosteiros. Estima-se que os prejuízos totais tenham equivalido a 10% da renda nacional.

O destino de Lisboa chocou filósofos e pregadores de toda a Europa e da América. A reação pessimista de Voltaire é bem conhecida.

Rousseau, chocado com o que Voltaire havia escrito, reafirmou as causas naturais da catástrofe. Em Veneza, Casanova, aproveitando o abalo, escapou do palácio do Doge, onde se encontrava detido.

Mas a reação mais surpreendente aconteceu em Portugal. Sebastião José de Carvalho e Mello, mais conhecido pelo seu título posterior de marquês de Pombal, agiu com notável presteza para enfrentar as consequências do terremoto.

As "providências", implementadas nos três dias que se seguiram ao abalo, poderiam perfeitamente servir de modelo aos sofridos haitianos. A primeira envolvia a remoção e o sepultamento dos mortos, para evitar que doenças se espalhassem.

A segunda era o combate à fome. A terceira envolvia tratar os feridos. A quarta se destinava a cuidar dos sobreviventes e persuadir a população a retornar a Lisboa. A quinta se referia aos saques e à punição dos ladrões. Por fim, ele ordenou uma investigação para determinar a melhor maneira de reconstruir a cidade.

O centro de Lisboa que hoje vemos resulta diretamente da iniciativa de Pombal. As praças principais, o Rossio e a praça do Comércio, assim como as ruas que se encontram ligadas, foram todas construídas de acordo com o projeto pombalino.

Mas suas "providências" também representam uma lista muito útil de referência quanto ao que fazer diante de uma catástrofe.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

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