sábado, 23 de janeiro de 2010



24 de janeiro de 2010 | N° 16225
PAULO SANT’ANA


Energia desaproveitada

Na crista da onda sobre o estrangulamento do atendimento nas emergências nos hospitais porto-alegrenses, chama-me a atenção o papel que vem desempenhando a Santa Casa de Misericórdia.

Ouvi o Dr. Furmeister, da Santa Casa, explicando o desempenho daquele hospital no atendimento gratuito e fiquei estupefato.

São apenas oito leitos na emergência do hospital, sendo que em média há 32 pacientes sempre na espera.

Mas, então, a tradicional Santa Casa, tradicionalmente a campeã do atendimento gratuito em Porto Alegre, contar apenas com míseros oito leitos na emergência, para fazer frente à sua missão social de atender gratuitamente os pacientes que lhe tocam na cota do SUS, soa ridículo.

Também por aí se explica esta crise nas emergências e no atendimento da Saúde na Capital.

Fica muito claro que estão sendo mal distribuídas pelo gestor municipal de Saúde as atribuições dos nossos hospitais.

Não tenho dúvida nenhuma de que tanto a Santa Casa quanto o Hospital de Clínicas apresentam uma estupenda capacidade ociosa em suas emergências. Poderiam prestar muito mais amplos serviços e estão sendo manietados pela gestão municipal.

Tanto, que o representante da Santa Casa disse que aquele estabelecimento hospitalar já encaminhou pedido para alastrar o atendimento, bastando para isso autorização do Ministério da Saúde, no que não foi atendido.

Tem de ser chamado também à questão o Hospital de Clínicas, imerso em reverencial silêncio.

Temos de saber (a opinião pública) quais são os números do Hospital de Clínicas e do Hospital da PUC, quantos leitos de emergência são autorizados pelo gestor, quantas autorizações de internações hospitalares lhes são concedidas etc.?

Oito leitos, somente, para a Santa Casa é o mais completo desvirtuamento da atividade proverbial daquela entidade.

O Rio Grande do Sul e Porto Alegre têm o direito de ver restabelecido na Santa Casa aquele atendimento gigantesco dela para com a demanda dos pobres e dos desfavorecidos.

Vou mais longe: não pode ter limites burocráticos o atendimento de saúde na Santa Casa. Quem for procurá-la tem de ser atendido.

O gestor municipal e o Ministério da Saúde precisam urgentemente fazer retornar à Santa Casa a sua vocação de atendimento gratuito de saúde.

Sei perfeitamente que a Santa Casa, para sobreviver, teve de voltar seu atendimento para os convênios, caso contrário sucumbiria.

No entanto, o que o gestor municipal da Saúde (a Secretaria Municipal da Saúde) tem de ter em mente é que, até mesmo porque se aparelhou para atender os convênios, a capacidade técnica da Santa Casa e a sua tradicionalidade de atendimento gratuito necessitam urgentemente ser canalizados para a prestação médica do SUS.

Oito leitos na emergência da Santa Casa! E, quando se excedem os oito leitos, fecha-se aquela emergência.

Quanto desperdício, quanta inadequação! Quanta imprevidência!

O prefeito José Fogaça necessita urgentemente entrar em campo e entrosar-se com o Ministério da Saúde e o governo estadual para melhor distribuir as atribuições dos hospitais gratuitos.

Eles podem dar muito mais, muito mais mesmo do que vêm dando. Basta que o gestor municipal lhes alargue o funcionamento pelo SUS!

Ridículos oito leitos da emergência da Santa Casa!

Ridículos!

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