segunda-feira, 18 de janeiro de 2010



18 de janeiro de 2010 | N° 16219
PAULO SANT’ANA


Pena rigorosa

A gente vive pedindo a pena de morte, mas quando nos deparamos com o caso do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, 48 anos, que foi preso na Indonésia em 2004, por portar 13,4 quilos de cocaína em sua asa-delta, ao entrar no país, fica-se tomado de alguma compaixão.

Há seis anos ele está condenado à morte, esperando a execução na prisão de Pasin Putih, uma das quatro do complexo de Nusakambangan.

Ali está preso também o surfista paranaense Rodrigo Gularte, 37 anos, autor do mesmo crime: levava 6 kg de cocaína escondidos em pranchas de surfe, sendo detido no aeroporto de Jacarta, a capital do país rigoroso com as drogas.

Também foi condenado à pena de morte.

O governo brasileiro já fez um pedido de clemência por Marco Archer, mas foi negada pela Indonésia.

Um segundo pedido de clemência foi ignorado.

E o condenado está pedindo que seu caso não fique no esquecimento, solicita desesperadamente a intervenção do presidente Lula: “Sempre peço para minha mãe (que está com câncer e não tem podido visitá-lo na prisão) para falar com Dona Marisa (Letícia, esposa de Lula), que o nosso presidente tem como dar um jeito nesta história. O Lula é poderoso, né? Ele é da classe trabalhadora”.

Lula já fez dois pedidos de clemência.

Marco Archer quer que ele faça um terceiro.

Aqui no Brasil se pede e se clama até pela pena de morte, mas para crimes hediondos, em que haja violência cruel.

Para o crime de tráfico de drogas, a nossa pena varia de 5 a 15 anos.

Por isso é que causa piedade o caso desses dois brasileiros condenados à morte na Indonésia.

Já na Indonésia, o combate às drogas é prioridade política, cultural, social e religiosa, pelos efeitos nefastos das drogas, daí a severidade incomum das penas a que ficaram sujeitos os brasileiros, que deviam saber desse rigor máximo e, se se arriscaram, apesar de tudo, é porque desejavam enriquecer com o tráfico: teoricamente, num país em que se encara com tanto rigor este crime, a recompensa financeira para quem o comete e é bem-sucedido é muito maior.

Vamos torcer para que os dois brasileiros tenham comutadas suas sentenças.

Porque só de pensar-se no ritual da execução da pena de morte na Indonésia a gente treme.

A execução é feita em campo aberto por 12 soldados com rifles, apenas duas das armas são carregadas.

Cada soldado atira uma vez no peito do condenado, a uma distância de cinco a 10 metros. Se o executado continuar vivo, leva um tiro na cabeça, à queima-roupa.

É de arrepiar. A pena brasileira parece ser mais proporcional ao crime.

No entanto, cada país tem a sua ordenação jurídico-penal.

E os dois brasileiros correram um risco calculado, isso não impede que torçamos por eles para que sejam perdoados, cumprindo somente pena de privação de liberdade.

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