sábado, 30 de janeiro de 2010



A Toyota na funilaria

A empresa revolucionou a maneira de fazer carros e tornou-se líder mundial. Agora enfrenta um recall constrangedor – que poderá arranhar a sua imagem

Luís Guilherme Barrucho - Redd Saxon/AP

PÁTIO CHEIO


Falha no acelerador interrompeu a venda nos EUA de oito modelos da fabricante japonesa


Foram necessários setenta anos para que a japonesa Toyota realizasse o sonho de seu criador, Kiichiro Toyoda. Em 2007, a empresa tornou-se a maior fabricante de carros do mundo, superando a americana General Motors.

O sucesso só foi possível graças à tecnologia que se tornou sinônimo de conforto e segurança, a preços competitivos. Na semana passada, essa reputação sofreu um golpe.

A Toyota convocou 2,3 milhões de proprietários nos Estados Unidos para solucionar um defeito no acelerador, produzido por um fornecedor canadense. Houve incidentes em que o carro continuava acelerando, mesmo depois de o motorista parar de pressionar o pedal.

O defeito envolve oito modelos da Toyota, entre eles seus dois sedãs mais vendidos nos Estados Unidos, o Camry e o Corolla. O mais constrangedor: incapaz de solucionar a falha, a empresa suspendeu a produção e a venda desses veículos.

O recall, que não afeta o Brasil, também foi estendido à Europa e à China. Ao todo, estima-se que mais de 4 milhões de automóveis terão de passar pelo conserto.

Foi a segunda grande falha registrada em menos de quatro meses no mercado americano. Em setembro, a Toyota já havia chamado 4,2 milhões de veículos de volta às concessionárias, por causa de um problema com o tapete do motorista, que se enroscava nos pedais. Como se não bastasse, a companhia tem perdido mercado para novatas, como a coreana Hyundai.

Para completar, padece de um equívoco estratégico: fez apostas tímidas nos mercados que mais crescem atualmente, como a China e o Brasil, ao contrário da alemã Volkswagen, que já dá sinais de superá-la.

O resultado é que desde que a montadora japonesa alcançou a liderança mundial, há dois anos, suas vendas caíram quase 20%. Estaria sob ameaça o reinado da marca? "Acredito que não", afirmou a VEJA Jeffrey Liker, da Universidade de Michigan. "Os princípios da Toyota são suficientemente fortes para evitar que dois problemas isolados contaminem toda a empresa."

A companhia cresceu seguindo catorze princípios criados por Kiichiro Toyoda e pelo engenheiro Taiichi Ohno, entre eles a busca pelo aprimoramento contínuo. A Toyota estabeleceu um novo modelo de administração, o just in time, em que a montagem e os embarques de carros são imediatos e correspondentes à demanda, o que reduz o custo para manter estoques.

As concorrentes a copiaram e se reergueram, enquanto a japonesa parece ter baixado a guarda. Diz Alan Middleton, da Universidade York, no Canadá: "Quando as empresas se tornam grandes demais, existe o risco de se acomodarem e deixarem a criatividade de lado". Para permanecer no topo, a Toyota precisará ter humildade oriental e reler os seus próprios princípios.

Junko Kimura/Getty Images
LÍDER CABISBAIXO



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