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sábado, 9 de janeiro de 2010
09 de janeiro de 2010 | N° 16210AlertaVoltar para a edição de hoje
PAULO SANT’ANA
Doença da solidão
Há quem pense que dor de dente só dá em pobre e depressão em rico.
Realmente, nunca se ouviu dizer que um pedreiro tivesse depressão.
Eu entendo que o pedreiro possa ter depressão, mas ele tem tanto a sofrer pela sua pobreza, que não há de querer atribuir a uma outra causa a sua tristeza que não seja o ganhar pouco e quase não poder manter-se com o pouco que ganha.
Então, o pedreiro depressivo segue a vida sem se dar conta de sua depressão.
Já a pessoa, digamos assim, que ganha em torno ou mais de 10 salários mínimos, esta tem sua sobrevivência garantida e sem aflições e, quando se apanha envolta em tristeza permanente, cogita que tenha depressão.
O fato é que a depressão existe, sim, e é alvo de atenção de psiquiatras e outros cientistas afins.
É um estado permanente de grave tristeza. Às vezes tem motivo, outras vezes as pessoas que são alvo dela não atinam para o que possa estar assim as derrubando, sem alegria, a vida sem sentido, uma pura desistência.
O sorriso, a pilhéria, a confraternização, qualquer comemoração, são fatos violentamente adversos à depressão.
Se uma pessoa depressiva receber um convite escrito para uma festa, fará com aquele papel o que faz com todos os papéis sem importância: irá jogá-lo na cesta do lixo.
Um depressivo estraga qualquer festa a que vá. Pelo menos chateia a todos os que o circundarem com um mau humor intolerável.
Porque todos os que vão a uma festa são os insistentes: estão lá porque são os combatentes, os que persistem em serem alegres e encarar a vida com otimismo.
E o depressivo nem vai à festa, não tem nada que fazer lá.
Se for à festa, trombará inapelavelmente com a alegria dos outros, não verá sentido para si por tanto contentamento e otimismo... dos outros.
É uma doença séria a depressão, mas felizmente já existem remédios ótimos para essa melancolia, além da psicoterapia.
Além de depressivo, como se viu acima, o triste depara com uma profunda solidão, pois ele se separa dos outros, qualquer companhia agravará ainda mais o seu problema.
E, se não é doença a solidão deliberada, a autocondenação à não convivência, então não sei mais o que é doença.
Tudo o que dói é doença.
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