sábado, 16 de janeiro de 2010



17 de janeiro de 2010 | N° 16218AlertaVoltar para a edição de hoje
MOACYR SCLIAR

O suor em controvérsia

Segundo ouvi na Rádio Gaúcha, o volante Guiñazu teve de deixar o treino do Inter mais cedo na sexta-feira da semana passada. O jogador ficou desidratado. Por quê? Porque costuma treinar com jaqueta de náilon, mais um moleton e mais uma camiseta. Objetivo: suar, e suar abundantemente.

Não é só o Guiñazu que faz isso. Na minha turma de basquete havia um gordinho que, antes do jogo, se enrolava em plástico – isso mesmo, plástico. Como se fosse um pacote.

Aliás, por causa disso ganhou o apelido de Pacotinho. Isso sem falar nas saunas, que são provavelmente os lugares mais quentes do mundo – não é por nada que a gente chama a Porto Alegre do verão de sauna. E por último, existem as substâncias chamadas diaforéticas, que fazem a pessoa suar.

A maioria delas são encontradas em plantas: manjericão, cânfora, cardamomo, canela, cravo-da-índia, efedra, eucalipto, gengibre, sálvia, tomilho. A medicina tradicional chinesa recorre muito a essas plantas, mas a medicina ocidental, ao tempo dos gregos, também incluía a sudorese forçada como recurso terapêutico.

A pergunta é: de onde vem esse costume? No Antigo Testamento, Deus pune Adão por comer o fruto proibido dizendo que ele terá de ganhar o pão com o suor de seu rosto.

Mas neste caso, convenhamos, suar é visto como castigo, não como coisa benéfica. Deus não está dizendo que, se Adão frequentar uma sauna ganhará panetones em abundância. Está falando em trabalho, trabalho duro, não tarefas amenas realizadas em confortáveis salas com ar-condicionado. De qualquer modo, ficou a noção de que suar é bom para a saúde.

E por que seria bom? Em primeiro lugar porque o suor eliminaria as toxinas. No suor, de fato, são eliminadas diversas substâncias, mas algumas delas, os sais minerais por exemplo, podem fazer falta para o organismo. De qualquer modo, as doenças para as quais se indicava a diaforese – em geral doenças infecciosas – têm tratamento muito mais eficiente através dos antibióticos e de outros medicamentos.

Muitas pessoas acreditam que suar faz perder peso. E, de fato, se perde peso pelo suor, às vezes muito peso. Mas isso resulta apenas da desidratação, como aconteceu com o Guiñazu.

E o organismo se defende, fazendo com que tenhamos sede e retendo o líquido até compensar o que foi perdido – e às vezes não compensa a perda de sódio e potássio, levando a pessoa a ter cãibras e outros problemas. A propósito: é um mito dizer que não se pode beber água durante exercícios físicos. Pode-se e deve-se beber água, mas em pequenas quantidades de cada vez.

De qualquer modo, o Guiñazu ensinou uma lição não só aos torcedores como ao público em geral. E não é isso que se espera de um bom atleta?

Agradeço as mensagens de Emilson Pedro Zorzi, Sara B. Carnesela, Patricia Neme, Roni Quevedo, Antonio Augusto Portinho da Cunha, Marino Boeira, Oscar T. F. Neto, Eleonora Peixoto, José Sanchez, Diana Werkmeister (da Alemanha: ZH chega longe), Antonio Frederico Knoll.

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