sábado, 23 de janeiro de 2010



23 de janeiro de 2010 | N° 16224
NILSON SOUZA


O rúgbi e o perdão

Ganhei de presente, no último Natal, uma simpática bola de rúgbi com as cores da Austrália, o nosso conhecido verde e amarelo. Veio de Sydney, onde estuda um sobrinho que conhece bem o meu apreço por esportes.

Mas a bola oval que atravessou o oceano para chegar às minhas mãos também tem um significado irônico: o remetente sabe que um dia tentei jogar este jogo de correrias, trombadas, agarrões, quedas, atropelamentos e até cotoveladas, já que os participantes da brincadeira mal conheciam as regras.

Era, na verdade, um exercício de coragem, iniciativa, ousadia ou maluquice mesmo, que tivemos que realizar durante um encontro de executivos. Muitos de nós saímos estropiados daquelas pirâmides humanas que se formavam na disputa da bola.

Teve reclamação, discussão, safanões, mas, no final, todos os participantes da disputa, vencidos e vencedores, feridos e milagrosamente ilesos, sentamos em círculo e nos divertimos numa conversa amigável. Estávamos, confesso, orgulhosos de termos participado daquele verdadeiro entrevero - se me permitem a licença nada poética os praticantes do esporte.

Pois o rúgbi será o esporte deste ano da Copa do Mundo de futebol da África do Sul. Estreia na semana que vem o filme Invictus, no qual Morgan Freeman interpreta Nelson Mandela na sua empreitada para apaziguar um povo dividido e ressentido pelo apartheid, o sistema de segregação racial que vigorou no seu país.

Mandela utilizou a seleção de rúgbi, vencedora do mundial de 1995, como símbolo da união nacional. Naquela época, o time era formado apenas por brancos e representava a classe dominante e excludente. Mas o esporte faz mágicas e o filme certamente vai mostrar como tudo se ajeitou quando a bola rolou – ou, no caso, voou.

Morgan Freeman fala do filme e de sua carreira nas páginas amarelas da última Veja. Lá pelas tantas, o entrevistador pergunta o que ele acha da ideia de perdão, que foi essencial no governo Mandela para a superação do ódio acumulado.

O ator responde que mais difícil do que perdoar é esquecer. E sentencia: “O perdão significa riscar uma linha separando o presente e o futuro das faltas passadas e determinar que não se voltará para trás dessa linha. Que aqueles erros não serão repetidos”.

Mais ou menos como no rúgbi. No final, os oponentes se abraçam, pedem desculpas, perdoam-se. Mas não esquecem.

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