sábado, 23 de janeiro de 2010



23 de janeiro de 2010 | N° 16224
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Churrasco

Desde os tempos das cavernas
Quando o homem achou o fogo
Assar carne foi um jogo
De luz, numa noite eterna,
Era uma reunião fraterna.
A carne tinha mais gosto
Com um pouco de cinza posto
Assim, em cima da perna.

Assar carne e cozinhar
Foi uma grande conquista
Do homem, que alçava a crista
Tendo as grutas como lar.
A família em seu lugar
Tinha melhor alimento
E o fogo dava o alento
Para o escuro espantar.

Nunca mais, nesta cruzada,
Ele deixou de comer
A carne sem aquecer
– se viciou em carne assada.
Mundo afora, tudo ou nada,
Na guerra, em viagem, na paz
Mostrou que sempre é capaz
De churrasquear na sesteada.

O índio sempre comeu
Assado até de capincho,
Veado, avestruz e quirquincho,
O que achasse por aqui

O jesuíta vai daí
Trouxe mil vacas e bois
Que se espalharam depois
Pelas margens do Ibicuí.

O gaúcho nasce, então,
Como um caçador de gado
Forte, valente e ousado,
Boleando de sofrenão
Pegando em cada ocasião
O gado que disparava
Que carneava e churrasqueava
Com grande disposição.

Este é o churrasco, o assado,
Carne, energia vital,
Às vezes meio sem sal
No suor do pingo, salgado,
Delicioso, abarbarado,
Tão simples, puro e sem luxo,
Companheiro do gaúcho
Que anda pra todo lado.

Que o Patrão Velho por nada
Numa manhã de mil flores,
Me leve sem os amores
Que eu semeei nesta jornada!
Quero bem no fim da estrada
Beber meu copo de vinho
E no espeto, bem quentinho
Um naco de carne assada.

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