terça-feira, 19 de janeiro de 2010



19 de janeiro de 2010 | N° 16220
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Um amor impossível

Devo ser uma das 14 pessoas de Porto Alegre que têm os 14 tomos das obras mais ou menos completas de Joaquim Nabuco. Ainda assim me peguei o outro dia lançando um olhar comprido para a centimetragem ocupada pela coleção, calculando quantos outros volumes poderiam preencher o espaço reservado aos livros se eu me animasse enfim a perpetrar a dieta a que ando pretendendo submeter minha biblioteca.

Citei Nabuco porque está na moda. Faz cem anos de sua morte e só a Veja da outra semana lhe dedicou 12 páginas. Mas tenho examinado ainda o território tomado pela Bíblia, pelo Tesouro da Juventude, pela Enciclopédia Larrousse e sua vizinha, a Barsa, imaginando os domínios que poderia desbravar pela simples eliminação de suas alentadas lombadas.

Pois esse é todo o meu problema. Minha biblioteca atingiu o ponto extremo de saturação e eu me encontro inteiramente desprovido de lugares para abrigar os livros, comprados ou presenteados, que não cessam de imigrar para as minhas prateleiras.

A maioria são os doados, por autores ou editoras, que cultivam uma ideia extremamente otimista de minha capacidade de leitura. O resultado é que vou acumulando, nos beirais das estantes, pilhas de obras que não tardarão a ameaçar as alturas da Burj Khalifa, a torre de 169 andares erguida pelos petrodólares de Dubai.

Está bem, exagero.

Mesmo assim, as colunas se agigantam e não dão sinal de que vão estacionar.

Ocorre que, desde que me tenho por gente, morei em casas guarnecidas por dezenas de prateleiras. Às vezes as casas encolhiam, mas não as bibliotecas.

De muito longe em longe, eram indispensáveis providências drásticas. Como, por exemplo, presentear escolas ou chamar o caminhão do Mensageiro da Caridade.

Mas essas eram medidas extremas. O normal era explorar novos espaços para os volumes órfãos de abrigo. É nesse transe que estou novamente.

Não vou me desfazer da Larrousse, nem dos 14 tomos de Joaquim Nabuco, esse grande cruzado da Abolição. Não vou, tanto quanto possível, me desfazer de livro algum.

Mas já que falei em Nabuco, não custa nada revisitá-lo. Nem que seja apenas para reviver a senhora e dama de seu amor impossível.

Terça-feira dia de sua folga se estivesse trabalhando, mas está de férias.

Uma linda terça-feira para todos nós. Ah e parabéns pelo meu aniversário.

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