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segunda-feira, 10 de agosto de 2009
10 de agosto de 2009
N° 16058 - L. F. VERISSIMO
Aquele olhar
F. Scott Fitzgerald escreveu que nas vidas americanas não havia segundo ato.
É uma das suas frases mais citadas, embora ninguém saiba exatamente o que significa. Ele queria dizer que vidas americanas não se beneficiam do adensamento ou do esclarecimento da trama que o segundo ato costuma trazer às peças teatrais?
Ou – já que escrevia na época em que as peças tinham três atos – que os americanos passam diretamente do seu começo ao seu triunfo ou fracasso finais sem o estágio intermediário da reflexão?
Ou que nas vidas americanas simplesmente não havia tempo para arrependimento e regeneração? Seja como for, assistindo a esse triste teatro em que se transformou o Senado nacional, culminando com o ressurgimento das suas próprias cinzas, como uma fênix com olhar de gavião, do Collor, fiquei pensando na frase do Fitzgerald. Com uma ligeira variação: nas vidas políticas brasileiras não existe último ato.
Você imaginaria que um Sarney já tivesse dito a sua fala de despedida e gente como Jader Barbalho tivesse protagonizado seus dramas com início, meio e desenlace conhecidos e saído de cena há muito tempo. Mas não, continuam lá, e mandando.
E quem imaginaria ver de novo em cena o mesmo Collor que foi corrido do palco no fim, ou no que parecia ser o fim, da sua performance trágica, presumivelmente para a obscuridade ou para papéis menores?
Não se trata de negar a ninguém a possibilidade da remissão e de outro começo, mas o mais triste disso tudo é a pobreza que revela. Nossa pobreza, pois quem elege tantos maus atores e sustenta uma dramaturgia capenga em que o fim nunca é o fim e nada tem conseqüência somos nós. Uma plateia decididamente tolerante com esse grotesco teatral, um primeiro ato interminável.
O assustador na volta do Collor à frente do palco é que aquele olhar furioso já foi credencial política. Ele já foi visto como um “louco” no bom sentido, decidido a acabar com a corrupção como um Jânio Quadros com melhor estampa e liberalizar a economia, custasse o que custasse.
Mais assustador do que o olhar do Collor, claro, é pensar na facilidade com que, vez por outra, nos deixamos enganar por esses artistas.
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