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sábado, 15 de agosto de 2009
15 de agosto de 2009
N° 16063 - PAULO SANT’ANA
A minha pasta
Esses dias, um médico de plantão de hospital me receitou um remédio.
Eu comprei o remédio e li na bula que aquele medicamento estava apenas em experiência, estava sendo testado, ainda não tinha sido provada a sua eficácia.
Um remédio que custa R$ 200 o vidro, imaginem, servindo apenas de experiência em quem pagou por ele essa fortuna.
Mesmo tendo lido essa aberração fármaco-terapêutica na bula, comecei a tomar o remédio, porque outra coisa não tenho sido em minha vida, desde que nasci, na minha infância, na juventude e na maturidade, em todas as fases da vida, eu não fui outra coisa senão uma cobaia.
Cobaia no casamento, cobaia nos empregos, cobaia nos bailes, onde as moças me tiravam para dançar com a finalidade de aprenderem tango comigo. Enfim, cobaia é só o que eu soube sempre ter sido.
Minha bolsa está repleta de remédios. Tomo pela manhã cerca de 12 pílulas. Pela tarde, quatro pílulas. Pela noite, umas 14 pílulas.
Já perguntei a vários médicos se a ingestão de 14 comprimidos diferentes por cada vez não provoca no metabolismo humano uma tal confusão e balbúrdia que as 14 pílulas, no entrecruzamento dos seus sais no sangue das minhas veias, não acabarão se tornando inócuas.
Ou então, pior hipótese ainda, assim misturadas em um só ou em dois goles de água, não se tornarão nocivas ao meu organismo ou a alguns órgãos especiais do meu corpo?
Todos os médicos a quem perguntei isso me responderam que não há notícia de que isso faça mal, então vá tomando, me disseram eles.
São muitas as pílulas porque são muitas as doenças. Tenho notado que isso não acontece só comigo. Há muitas pessoas, entre elas amigos meus, que carregam um receptáculo de plástico cheio de comprimidos, com diversas divisões, onde ficam classificados os remédios e os horários escritos em que devem ser ministrados.
Essas caixinhas de remédio simplificam as coisas para os pacientes, mas eu não consegui adotá-las.
Os meus remédios são jogados todos em minha bolsa e misturados ao desodorante, à pasta de dente, à rapadurinha de leite, ao talão de cheques, ao aparelho avaliador da minha glicemia, à seringa em forma de caneta com a qual me aplico a insulina (sofro em média três picadas por dia para combater o diabetes).
Esta minha pasta tem de ir para o Guinness, já se tornou famosa em Porto Alegre por todos os lugares que vou.
Ainda sobre minha pasta, ela pesa uns oito quilos. Acho que é por isso que tenho tendinite em ambas as mãos e pulsos.
Minha pasta é uma mixórdia, quase nunca acho nela o que procuro, a não ser os remédios, que guardo dentro de uma sub-bolsa especial.
Dois terços do peso de minha pasta são compreendidos por medicamentos e equipamentos para avaliar, vigiar, combater o diabetes, o outro terço é formado por uma parafernália de quinquilharias que vão dos doces dietéticos até os artigos de higiene, passando pelas várias carteiras de documentos.
Minha pasta já há 10 anos faz parte de meu ser. Não sei me locomover sem ela e há até declarações familiares de que durmo agarrado a ela e me banho sobraçando-a.
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